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Genoma da galinha ajuda a compreender espécie humana

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O sequenciamento completo do código genético da galinha, realizado por vários países através do Consórcio Internacional para o Genoma da Galinha, abriu novas possibilidades para a compreensão da evolução das espécies. Até o momento, apenas mamíferos e alguns outros organismos menores tiveram seu código genético seqüenciado.

Localizada entre os peixes e os mamíferos na escala evolutiva, a galinha foi a primeira ave a entrar para o rol de organismos já decifrados pelos cientistas. As informações obtidas com o processo poderão ajudá-los a preencher as lacunas existentes entre os genomas dos diversos animais já analisados. Além disso, trata-se do primeiro animal seqüenciado de uso na indústria alimentícia.

Segundo pesquisadores do consórcio, o interesse maior no genoma da ave, assim como de outros animais, é a espécie humana. “Nós sequenciamos a galinha para entender nosso próprio genoma, que é nossa maior motivação,” disse Ewan Birney, do Instituto Europeu de Bioinformática de Cambridge, no Reino Unido. Os dados analisados deverão ser utilizados para o estudo de doenças causadas por mutações genéticas e também as relacionadas ao envelhecimento.    No estudo, recentemente publicado na revista científica Nature, o Consórcio Internacional para o Genoma da Galinha, composto por cientistas de todo o mundo, escolheu para o sequenciamento a espécie Gallus gallus, um parente ancestral da galinha comum que ainda vive em certas regiões do sul da Ásia. A ave utilizada possui mais de sete anos de idade e vive em cativeiro em uma instituição de pesquisa nos Estados Unidos.    Embora o genoma analisado seja de uma ave, os pesquisadores esperam conseguir muitas informações úteis à compreensão da espécie humana. Isto porque o homem e a galinha já tiveram um ancestral comum, uma espécie de réptil há 310 milhões de anos atrás.    A galinha possui apenas 1 bilhão de pares de bases nitrogenadas (que formam a cadeia de DNA), enquanto o homem tem cerca de 3 bilhões. No entanto, as duas espécies apresentam quantidades entre 20 e 23 mil genes ativos, ou seja, trechos de DNA que ajudam a produzir proteínas no organismo. Apesar disso, cerca de 60% do genoma da galinha possui homologia em relação ao genoma humano. Em relação aos roedores, esta proporção pode chegar a 80%.

Olfato aguçado

Na pesquisa, os cientistas sequenciaram o material genético de apenas um individuo da espécie, através de um procedimento denominado “Shotgun aproach”. Nesse processo, o DNA do animal é extraído, dividido em várias partes menores, seqüenciado e somente então remontado para ser analisado.   Apesar de ainda estar no início, a análise do genoma da galinha já revela importantes informações para os cientistas do Consórcio. Pensava-se, por exemplo, que as galinhas possuíam um sistema olfativo ineficiente, mas o grande número de genes relacionados ao olfato sugere exatamente o contrário.    Outro dado interessante diz respeito à queratina. No homem, a substância está envolvida com a produção de cabelos, pêlos e unhas, enquanto na galinha é responsável principalmente pela formação do bico e garras.

Segundo Cristofer Ponting, geneticista da Universidade de Oxford e membro do Consórcio, acredita-se que a origem dos genes para a produção de queratina seja a mesma nos homens e nas aves. No entanto, os genes envolvidos para a produção da queratina são diferentes nas duas espécies, indicando que possa ter ocorrido uma segunda evolução do gene.

Áreas vazias

Não é incomum que diferentes espécies possuam a mesma seqüência de genes para codificar uma determinada proteína. Estas áreas são chamadas pelos cientistas de “regiões conservadas” dos genes, pois qualquer mutação neste trecho poderia gerar disfunções no organismo.

No entanto, um fator que chamou a atenção dos cientistas do Consórcio diz respeito às chamadas “áreas vazias” do código genético, as regiões do DNA que não possuem genes, ou seja, não codificam nenhuma proteína no animal. Quando grupo comparou o DNA da galinha com o de vários mamíferos, encontrou um grande número de regiões semelhantes nesta área.    “Imagino que ninguém esperava uma similaridade tão grande”, disse Ewan Birney, um dos coordenadores do sequenciamento. Os pesquisadores ainda não sabem ao certo o porquê destas “regiões conservadas” que não codificam proteínas.

Gripe do Frango

A pesquisa pode também auxiliar a compreender como e porque certos vírus e doenças são capazes de se modificar e passar das aves para o homem, como a gripe espanhola, uma variação de um vírus de aves capaz de matar mais de 20 milhões de pessoas em todo o mundo no ano de 1918.    Na galinha, os cientistas encontraram os genes que codificam a Interleukina 26, importante proteína do sistema imune, antes encontrada somente em humanos. Os pesquisadores esperam que o estudo do sistema imune da galinha possa levar ao desenvolvimento de métodos mais eficazes de controle de vírus e doenças, como a gripe do frango.    Os cientistas possuem grande interesse neste tema pois temem que, assim como no caso da gripe espanhola, a gripe do frango também possa sofrer mutações a passe a afetar diretamente os humanos.  
20/12/2004
 

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