Logotipo Biotec AHG

Médicos tratam lesões na coluna usando células-tronco

Imprimir .
Equipe do HC-USP já consegue fazer estímulo cruzar a região danificada da medula

Pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) apresentaram recentemente resultados animadores que podem ajudar a compreender melhor e a tratar das lesões na medula espinhal. Os resultados foram apresentados no início do mês, durante seminário sobre Células-tronco e terapia celular ocorrido na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

O estudo, coordenado pelo ortopedista e professor Tarcísio Eloy de Barros Filho, da USP, é conduzido no Instituto de Traumatologia e Ortopedia do Hospital das Clínicas da universidade, e envolve também pesquisadores do Hemocentro e do Instituto de Radiologia do Hospital.

A técnica utilizada pelos pesquisadores consiste em injetar células-tronco, retiradas da medula óssea do próprio paciente, diretamente no local onde houve a lesão, um procedimento que evita os riscos de rejeição.

Todos os anos milhares de pessoas morrem em decorrência de acidentes que provocam lesões traumáticas na medula espinhal. As pessoas que sobrevivem a este tipo de acidente geralmente ficam paraplégicas, quando perdem a sensibilidade e o movimento no corpo da cintura para baixo, ou tetraplégicas, quando a perda ocorre do pescoço para baixo. No entanto, em alguns casos é possível ocorrer uma mudança no quadro, em um período de até dois anos após o acidente.     Processos inflamatórios

Segundo estudos, a perda das sensações e movimentos do corpo em pessoas que sofrem lesões na medula é causada pela soma de duas diferentes condições: o trauma mecânico inicial e, em segundo lugar, o processo inflamatório decorrente desta lesão. 

O primeiro dano, causado pelo trauma em si, é independente dos mecanismos de controle celular (como medicamentos), pois é causado pelo esforço mecânico que rompe a medula e danifica os tecidos da região. Já os danos secundários, decorrentes do processo inflamatório do organismo, envolve mecanismos complexos relacionados com o metabolismo e a regeneração das células que restaram. Neste processo são produzidas proteínas e substâncias que podem levar à morte de muitos neurônios.

É nesta etapa que médicos e pesquisadores trabalham, utilizando drogas que combatem os efeitos secundários negativos, com o objetivo de acelerar a recuperação dos movimentos.

Resultados

Na pesquisa realizada na USP foram avaliadas 32 pessoas que sofrem há mais de dois anos de paralisia causada por acidentes e lesões na medula espinhal. Entre os pacientes que participam do tratamento está Georgete Vidor, treinadora de ginástica olímpica que se tornou paraplégica após um acidente automobilístico, em 1997. Georgete já foi treinadora de várias atletas olímpicas brasileiras, entre elas Daniele Hipólito. 

Após dois anos, em 15 dos 32 pacientes o tratamento com células-tronco já permite que estímulos nas regiões paralisadas do organismo ultrapassem a região danificada e cheguem ao cérebro, indicando novas possibilidades de recuperação dos movimentos. 

Apesar disso, os médicos procuram não criar falsas expectativas. “O leigo acha que a pessoa vai sair andando, mas não é assim”, relata Raphael Marcon, ortopedista da equipe de pesquisa. “O estudo nos dá esperança para o futuro”, comenta.    Ainda falta descobrir, por exemplo, de que forma as células-tronco injetadas puderam contribuir para a significativa melhora no quadro. Os pesquisadores buscam agora saber se as células foram capazes de recuperar os neurônios danificados.

As células-tronco

O estudo de células-tronco em aplicações médicas vem apresentando ótimos resultados nas pesquisas ao redor do mundo. No Brasil, pesquisadores recentemente apresentaram resultados promissores com este tipo de célula no tratamento de AVC (acidente vascular cerebral) e também de pacientes com problemas cardíacos.

As células-tronco podem ser encontradas na medula óssea de pessoas adultas, no cordão umbilical de fetos. É possível encontrá-las também em embriões mas, neste caso, para se obter as células-tronco é necessária a destruição do embrião. 

Por isso, pesquisadores, governos, ONGs e outros representantes da comunidade vêm discutindo arduamente a questão, avaliando os limites éticos envolvidos neste tipo de pesquisa. No Brasil, este tema será definido legalmente em breve, pois está incluído no texto da Lei de Biossegurança, e deverá ser votado pela Câmara dos Deputados, em Brasília, no próximo ano.  
14/12/2004
 

 © BIOTEC AHG 2023 - Todos os direitos reservados - São Paulo, Brasil.