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AIDS – panoramas de uma epidemia

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Todos os anos o dia primeiro de dezembro é lembrado como o “Dia Mundial da Luta Contra a Aids”. Neste dia, milhares de instituições de todo o planeta realizam manifestações e eventos que possam chamar a atenção para esta doença que já se tornou uma epidemia mundial.

Números da doença

Segundo dados divulgados em relatório anual da UNAIDS, fundo de combate à Aids da ONU, o número de portadores do HIV subiu em todo o mundo, chegando a 39,1 milhões de pessoas. Um fator que impressiona é o aumento do número de casos entre as mulheres, que já representam cerca de 47% do total.    "A transmissão heterossexual é responsável atualmente por uma proporção crescente das infecções pelo HIV, e as mulheres são cada vez mais afetadas", indica o documento.    No Brasil, os números não são diferentes, e a incidência de casos entre as mulheres também têm aumentado. Hoje, a proporção é de uma mulher para cada dois homens infectados; nos anos 80, a relação era de aproximadamente 25 homens para uma mulher.    Este fenômeno, segundo especialistas, deve-se ao crescimento de casos de transmissão do vírus em relações heterossexuais, que modificou as características de expansão e disseminação da epidemia. Para muitas pessoas a Aids ainda é vista como uma doença vinculada apenas a relações homossexuais e a usuários de drogas.

"No início, a Aids afetou principalmente homens que tinham relações sexuais com outros homens e depois os consumidores de drogas injetáveis. Mas agora a epidemia se tornou mais diversificada", observou o relatório. 

Na América Latina, que têm aproximadamente 473 milhões de habitantes, cerca de 1,7 milhões de pessoas estão contaminadas com o vírus da Aids. Segundo a UNAIDS, o Brasil é o responsável por cerca de um sexto desse total. Dados de 2003 do Ministério da Saúde indicam que o país possui cerca de 310 mil pessoas infectadas com o HIV.

Acesso Restrito

Apesar dos esforços internacionais, ainda é muito pequeno o número de pessoas realmente beneficiadas com as pesquisas e inovações contra a Aids. No mundo, apenas 7% das pessoas que deveriam receber o coquetel anti-HIV, o equivalente a 440 mil indivíduos, conseguem ter acesso aos remédios.

Cerca de 6 milhões de pessoas que já possuem a doença em estágio avançado deveriam tomar o coquetel nos dias de hoje. Estima-se que somente no continente africano, que possui mais de 25, 4 milhões de portadoras do vírus, 3,1 milhões pessoas devem morrer da doença até o final deste ano.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a intenção é providenciar medicamentos anti-retrovirais (que impedem a multiplicação do vírus) para 3 milhões de pessoas nos países em desenvolvimento até o final do próximo ano.  "Neste momento, a OMS está estimulando os países a iniciar os tratamentos com os genéricos que já estão disponíveis e a longo prazo vamos caminhar para a introdução de novos medicamentos. Isso já faz uma diferença enorme", informa um comunicado da Organização.

Baixo custo

Uma das alternativas para aumentar a disseminação de soluções contra a doença poderia ser a redução nos preços dos remédios. No entanto, uma das preocupações da OMS, que veta um em cada cinco anti-retrovirais apresentados, é o nível de qualidade dos remédios. 

Segundo pesquisas, uma diminuição no custo dos medicamentos poderia reduzir quase pela metade o número crianças mortas na África.

Na Zâmbia, um estudo envolvendo 541 crianças conseguiu demonstrar que é possível existirem tratamentos efetivos e de baixo custo contra a doença. O tratamento consiste em doses diárias de um antibiótico comum, o co-trimoxazole, que combate doenças oportunistas como a pneumonia e a tuberculose.

O medicamento custa menos de US$ 0,10 por dia/pessoa. O sucesso nos resultados levou a OMS e a Unicef (Órgão da Infância das Nações Unidas) a recomendar o programa para todos os países em desenvolvimento.

Todos os dias, cerca de 1,3  mil crianças morrem em decorrência da Aids em todo o mundo.    Patentes    No Brasil, o diretor do Programa Nacional de DST/Aids do Ministério da Saúde, Pedro Chequer, afirmou que o governo brasileiro tem a intenção de quebrar de três a cinco patentes de remédios para tratamento de Aids já no próximo ano.

Em entrevista à BBC Brasil, Chequer disse que a meta é tornar o país auto-suficiente na produção destes medicamentos. Além disso, o governo tem a intenção de continuar com os projetos de cooperação internacional, auxiliando países sem infra-estrutura para combater a epidemia. 

"Nós já temos um grupo de cooperação tecnológica que envolve Rússia, Ucrânia e Tailândia. Estamos buscando parcerias para incluir a Índia e a África do Sul. A primeira reunião vai ser em janeiro, no Rio, e terá como objetivo a troca de experiências e tecnologias”, afirmou.    O governo brasileiro também reagiu às declarações da vice-diretora executiva da UNAIDS, Kathleen Craveiro, a respeito da inexistência de políticas voltadas especificamente para o combate à Aids entre usuários de drogas.

Segundo o diretor, isto não é uma verdade, pois a realidade brasileira dificulta a ação dos programas de prevenção. “Nós temos o poder dos grupos de tráfico de cocaína que dominam favelas, brigando entre si dificultando o acesso dos serviços de saúde, das ONGs a essa população” disse Chequer.     Mesmo assim, o Brasil é tido por especialistas da própria UNAIDS como referência. “O governo brasileiro introduziu uma iniciativa para identificar mulheres grávidas e oferecer-lhes o teste do HIV, proporcionar serviços para prevenir a transmissão da mãe para o filho e, nos casos pertinentes, tratar as mulheres e os recém-nascidos”, diz o relatório anual da entidade.

A Ciência contra a AIDS

No campo das pesquisas, cientistas de todo o mundo têm apresentado resultados animadores. Apesar de ainda não representarem possibilidades concretas de cura da doença, os estudos científicos em relação à Aids já conseguiram avanços significativos. 

Algumas pesquisas, como o novo teste de HIV desenvolvido na Malásia, apresentado a seguir, conseguiram resultados tão promissores que em breve poderão estar disponíveis para utilização em larga escala, ou seja, acessíveis a todas as pessoas.

Novas vacinas  Em Recife-PE, pesquisadores brasileiros e franceses desenvolveram uma técnica capaz de reduzir em mais de 90% a presença do vírus HIV em pacientes, sem os efeitos colaterais típicos do coquetel anti-HIV. Em 8 dos 18 casos, a quantidade de vírus atingiu níveis indetectáveis. 

“É um resultado inicial, mas promissor”, disse o coordenador do estudo no Brasil, Luiz Cláudio Arraes, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Há dois anos nenhum dos pacientes do estudo necessita do coquetel.

Segundo os cientistas, trata-se de uma vacina que utiliza versões enfraquecidas do HIV combinado a certas células de defesa (as “células dendríticas”), que torna o sistema imune capaz de identificar e atacar o vírus. 

Na China, uma vacina contra o HIV já conseguiu aprovação do governo para ser testada em humanos. De acordo com a TV estatal chinesa, trinta pessoas já se apresentaram como voluntários para os testes.

Segundo a Agência de Alimentos e Medicamentos Chinesa, macacos que receberam a vacina desenvolvida no país ficaram imunes ao HIV.    Testes mais rápidos   Três a cinco minutos é o tempo de duração do mais novo teste de HIV apresentado pela Fundação TH Koid, da Malásia. De acordo com os fabricantes, trata-se da quinta geração de aparelhos da empresa.

O equipamento, chamado HV-7, é considerado mais rápido do mundo, e deverá estar presente nos hospitais da Malásia em janeiro ou fevereiro. O preço do equipamento não foi divulgado, mas a TH Koid afirma ser de baixo custo, e pretende disponibilizar a invenção também em farmácias.    Segundo o diretor e fundador da empresa, a novidade não está no tipo de teste realizado, mas na maior exatidão e velocidades do equipamento.

Células-tronco  Enquanto isso, a Caltech, empresa de biotecnologia norte-americana, em conjunto com pesquisadores de universidades do país, está utilizando as mais novas tecnologias e avanços da área no combate à Aids. 

Através da utilização de células-tronco, combinadas com terapia genética e imunoterapia, a empresa afirma ter desenvolvido um tratamento capaz de reduzir significativamente a quantidade de vírus no organismo humano.

O presidente da empresa, David Baltimore, ganhador do Nobel de Medicina em 1975, garante que este projeto “tem um significado especial para o futuro da ciência biomédica”.

Iniciativa literária  Por fim, no campo da literatura, a edição de uma coleção de contos foi a estratégia encontrada pela vencedora do premio Nobel de 2001, Nadine Gordimer, para combater a Aids. 

O livro, chamado Telling Tales, possui contos de renomados escritores como Salman Rushdie, John Updike, Gunter Grass, entre outros. Toda a verba arrecadada com a venda será destinada a uma organização de caridade que combate a Aids na África do Sul. 

A coleção foi lançada às vésperas do Dia Mundial de Combate à Aids pelo Secretário-Geral da ONU, Kofi Annan, em Nova York.  
05/12/2004
 

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