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Células CAR T tratam a criptoscocose

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De acordo com o artigo publicado na edição de novembro (2009) do Jornal Brasileiro de Pneumologia, a criptococose é uma micose sistêmica causada por duas espécies de fungos (basidiomicetos) encapsulados, o Cryptococcus neoformans e o Cryptococcus gattii, que causam infecção em indivíduos imunocomprometidos e em hospedeiros imunocompetentes, respectivamente. Pacientes com deficiência de células T são mais suscetíveis. A infecção caracteriza-se, inicialmente, por lesões pulmonares assintomáticas e a doença disseminada pode, frequentemente, evoluir para meningoencefalite, principalmente em pacientes acometidos pelo HIV. A prevalência dessa doença em pacientes HIV positivo, varia de 2,9 a 13,3%, representando uma taxa significativa de mortes nesses indivíduos.

A cápsula polissacarídica desses microrganismos, composta na sua quase totalidade por glucuronoxilomanana (GXM, sigla em do inglês), é o principal fator de virulência desse fungo. Esse componente, de origem glicídica, localizado na superfície mais externa, tem grande potencial imunogênico e parece ser fundamental na proteção desses fungos contra as defesas do hospedeiro.

Sabendo disso, pesquisadores da Universidade de Medicina da USP de Ribeirão Preto utilizaram em seus experimentos linfócitos T CD8+ redirecionados, de forma a expressarem os receptores de antígeno quimérico de células T (GXMR - CAR), tendo como alvo terapêutico o GXM.

As células CAR T são produzidas em laboratório pela modificação das células T do sistema imunológico, com o objetivo de recuperar a capacidade das células T, de proteger o organismo de infecções e do surgimento de tumores.

Em entrevista dada à Revista Fapesp, na edição de janeiro (13), o primeiro autor do estudo e pesquisador da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (USP), Thiago Aparecido da Silva, comentou que as descobertas mostram que as células T desenhadas pela equipe, têm a capacidade de reconhecer o Cryptococcus neoformans e que futuramente, as pesquisas terão como alvo descobrir o mecanismo que faz com que as células GXMR-CAR T sejam eficazes terapeuticamente.

De acordo com o pesquisador, o estudo mostrou que as GXMR-CAR-T não contiveram o crescimento somente do fungo, mas também reduziu o número de células gigantes (diâmetro acima de 45 µm).

O aumento do tamanho das células é uma forma de proteção do fungo contra a fagocitose. A presença das células de maior tamanho, ocorre durante a infecção pelo fungo, aumentando assim a sua virulência. Silva destacou a redução do número dos fungos como um forte indicativo para novos tratamentos contra essa doença e a possibilidade de usar essa terapia contra outros agentes infecciosos, associada às convencionais, além da possibilidade de desenvolver nos pacientes uma memória imune.

28/01/2021
Arlei Maturano - Equipe Biotec AHG