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Terapia com mediadores lipídicos

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Um grupo de pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP), desenvolveram um estudo para mensurar o impacto de dois mediadores lipídicos pró-resolutivos, a maresina (MaR1) e a resolvina (RvE1) (SPMs, sigla em inglês), em um modelo in vitro de células-tronco do ligamento periodontal humano (hPDLSCs), sob estimulação de duas citocinas, a interleucina 1β (IL-1β) e o fator de necrose tumoral-α (TNF-α). Para isso, foi necessário a avaliação de diferentes parâmetros, tais como, a pluripotência, a migração, a viabilidade, a morte celular, os marcadores do ligamento periodontal (α-actina de músculo liso, tenomodulina e periostina), a diferenciação cementogênica-osteogênica e as perturbações fosfoproteômicas.

A MaR1 e RvE1 desempenham um importante papel na regulação de processos inflamatórios, como no caso da periodontite, doença inflamatória crônica que afeta os tecidos periodontais de sustentação ao redor dos dentes, podendo levar à perda dentária, porém faltava saber como os mediadores conseguem regular as propriedades regenerativas das hPDLSCs, em condições inflamatórias.

Em entrevista à Agência Fapesp, o pesquisador da disciplina de periodontia da Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo (FO-USP), Emmanuel Albuquerque de Souza, destacou que “a inflamação local é um dos aspectos mais desafiadores do tratamento da doença periodontal, por destruir os tecidos que sustentam os dentes. Ele comentou também que o tratamento com células-tronco, embora consiga estimular a regeneração dessas estruturas em estudos in vitro e em animais, acaba não funcionando tão bem nos humanos por conta da inflamação”.

Sabendo que as hPDLSCs podem sofrer alterações devido à estímulos do meio extracelular, como no caso da cascata inflamatória, a equipe de pesquisadores avaliou se as condições pró-inflamatórias e pró-resolutivas alteram o fenótipo dessas células-tronco, induzindo mudanças na expressão de marcadores de pluripotência. Os resultados mostraram que nenhuma das condições testadas alterou o imunofenótipo das hPDLSCs.
 
Eles constataram também que as hPDLSCs expressam fatores de transcrição (Sox2 e Oct4) que caracterizam a pluripotência e que ao tratarem células que foram expostas a IL-β e TNF-α, com os dois mediadores lipolíticos pró-resolutivos, houve um aumento da expressão daqueles fatores, quando comparado ao grupo tratado com IL-1β e TNF-α. Esses resultados sugerem que os SPMs bioativos restauraram parcialmente a pluripotência das hPDLSC, que foi reduzida por mediadores pró-inflamatórios.
 
Outra descoberta importante foi a de que os SPMs são capazes de restaurar a migração e a viabilidade das hPDLSC. As citocinas pró-inflamatórias, além de induzirem a apoptose, diminuíram a migração e a sobrevivência de células-tronco, no entanto, ao tratarem as citocinas pró-inflamatórias com os mediadores, houve uma redução desses processos.

Também em entrevista para a Agência Fapesp, a professora da disciplina de periodontia da FO-USP e orientadora de Souza no Brasil comentou que o estímulo à liberação desses mediadores pode ajudar a melhorar a taxa de sucesso das chamadas terapias regenerativas. De acordo com a pesquisadora, ao serem estimuladas pelos dois mediadores, as células-tronco passariam a ter propriedades semelhantes a tipos celulares característicos do periodonto.

A professora comentou também que ainda é preciso entender como usar terapeuticamente os mediadores, mesmo não se sabendo até que ponto é possível modificar o metabolismo do organismo para sintetizar esses mediadores, mas que uma possível forma de fazer isso seria usar o precursor dessas substâncias, o ômega 3. Segundo a pesquisadora, a suplementação mostrou efeitos positivos em estudos clínicos, juntamente com a terapia periodontal básica.

Os resultados da pesquisa mostraram ser possível aumentar a eficácia da terapia, ao se tratar as células-tronco com os mediadores lipídicos, antes de utilizá-las nos tratamentos clínicos, com finalidade regenerativa.

01/12/2020
Arlei Maturano - Equipe Biotec AHG
 

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