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microRNA tratando Leishmaniose

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Segundo a WHO (World Health Organization), a Leishmaniose está entre as doenças tropicais negligenciadas, ou seja, “um grupo diversificado de doenças transmissíveis que prevalecem em condições tropicais e subtropicais em 149 países, afetando mais de um bilhão de pessoas, com bilhões de dólares de custo por ano às economias em desenvolvimento. Populações vivendo na pobreza, sem saneamento adequado e em contato próximo com vetores infecciosos, animais domésticos e o gado são os mais afetados”.

A doença ocorre pela entrada do parasita, a partir de uma dilaceração causada pela peça bucal dos insetos vetores, os flebotomíneos, popularmente chamados de “mosquito palha” ou “cangalhinha”. O mosquito se contamina com o sangue de pessoas e animais doentes e transmite o parasita a pessoas e animais sadios. Há três formas principais de leishmaniose, a cutânea, a visceral ou calazar e a mucocutânea.

Interessados em buscar novos caminhos para a cura dessa doença, cientistas do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo (IB-USP), liderados pela professora do Departamento de Fisiologia do IB-USP e coordenadora do projeto, Lucile Maria Floeter Winter, publicaram um artigo na edição do mês de março da revista Nature, com os resultados sobre o estudo do processo de infecção causado pelo parasita Leishmania (Leishmania) amazonenses, espécie causadora de manifestações cutâneas, cutâneo  difusas ou ambas.

No artigo, os pesquisadores explicam que após o vetor inocular as promastigostas – formas flageladas e extracelulares do parasita – elas sofrem fagocitose pelas células do sistema imunológico do hospedeiro, diferenciando-se na forma amastigota – intracelular, sem movimentos e replicativa – causadora da infecção nos macrófagos fagolisossomos.

Eles esclarecem também que a resposta inflamatória imune é iniciada pela presença dos monócitos, com a produção de óxido nítrico (NO), mas que mesmo assim o parasita consegue sobreviver e replicar dentro dos macrófagos, reduzindo a eficácia do sistema imune. A entrada do parasita nessa classe de células, especificamente, faz com que haja uma alteração na expressão gênica no hospedeiro, acarretando na diminuição da produção do NO.    

Esses dados mostram, a partir das interações entre o hospedeiro e o patógeno, que ocorrem sinalizações e modificações fisiológicas nas células hospedeiras que induzem a uma regulação pós-transcricional mediada por microRNA (RNAmi) de genes envolvidos na resposta inflamatória, durante a indução da resposta imune.  

Ciente desse processo, a equipe pesquisou o papel de L. (L.) amazonensis na regulação do RNAmi em camundongos e avaliou se a arginase desempenha algum papel no perfil dessa classe de RNA dos macrófagos dos animais, durante a infecção, já que essa enzima se mostrou essencial no estabelecimento da infecção a partir do metabolismo da L-arginina.  

A partir de uma análise comparativa da expressão de 84 RNAmi de macrófagos infectados com o parasita sem alteração genética e aqueles infectados com uma linhagem de parasita mutante knockout para não produção de arginase, os resultados mostraram que a ausência dessa enzima determinou a regulação diferencial na expressão do RNAmi.

Os pesquisares detectaram que 78% dos RNAmi que sofreram alteração, a partir da infecção pelos parasitas normais, tiveram aumento na sua regulação, enquanto que em apenas 32% dos RNAmi dos macrófagos infectados pelos parasitas “kcnocauteados, apresentaram o mesmo resultado. 

De acordo com as informações descritas pelos pesquisadores, esse estudo foi o primeiro a demonstrar a importância de dois tipos específicos de RNAmi (miR-294 e miR-721),  na regulação da expressão da Nos2 (óxido sintetase 2), processo esse, dependente da arginase produzida pelo parasita e que pode leva-lo à morte ou mantê-lo vivo dentro das células do hospedeiro.

Com essas descobertas, o grupo de cientistas acredita ser possível usar os RNAmi como possível alvos para o desenvolvimento de drogas para o tratamento da doença.

19/09/2017
Arlei Maturano - Equipe Biotec AHG