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Pesquisa americana impede HIV de penetrar nas células

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Pesquisadores da Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, conseguiram desenvolver uma terapia capaz de impedir que vírus HIV infecte outras células do sistema imune. A pesquisa, publicada na revista americana Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS), foi liderada pelo biólogo e Nobel de Medicina em 1975 David Baltimore, professor da universidade e presidente da Caltech, uma companhia de biotecnologia nos EUA.

Apesar de não representar uma cura, o estudo pode se tornar um importante aliado no tratamento de pessoas infectadas, pois permitiria a diminuição do número de células infectadas nestas pessoas. Além disso, a técnica poderia ajudar também no combate a outras doenças resultantes de disfunções genéticas, como o câncer. Para realizar o projeto, os pesquisadores receberam cerca de US$1,5 bilhão da Fundação Skirball de Nova York.    Na pesquisa, Baltimore e sua equipe utilizaram uma versão desativada do vírus da AIDS, como uma espécie de “Cavalo de Tróia”, para conseguir um “agente modificador" dentro das células-T, reduzindo a facilidade com que o HIV normalmente invade estas células. Os primeiros resultados indicam que cerca de 80 por cento dos linfócitos tipo-T podem estar protegidos contra o HIV.

“Para penetrar na célula, o HIV necessita de dois receptores, que atuam como fechaduras e permitem que o vírus entre”, informa o Dr. Baltimore. “O HIV se liga a estes receptores e força sua penetração na célula. Se pudermos eliminar um deste dois receptores, podemos impedir que ele infecte a célula” continua.

Os receptores aos quais o pesquisador refere-se são chamados CCR5 e CD4. O sistema imune humano não consegue sobreviver sem os receptores CD4. No entanto, a falta do receptor CCR5 não representa nenhum comprometimento as defesas naturais. Na realidade, cerca de 1% das pessoas brancas já nascem sem os receptores CCR5, e são conhecidas por possuírem uma “imunidade natural” contra a AIDS.

Assim, a estratégia utilizada pelos pesquisadores foi eliminar a ação dos receptores CCR5 nos linfócitos T, células de defesa do organismo.     Para isso, os cientistas desenvolveram o HIV enfraquecido, portando um “RNA especial” denominado siRNA (sigla para RNA de pequena interferência, em inglês), capaz de penetrar nas células. Assim, apesar de invadir a célula, o HIV não causa a doença, mas o siRNA presente desativa o receptor CCR5, impedindo futuras invasões nos linfócitos-T do paciente.

As pesquisas demonstraram que as células protegidas tornam-se resistentes ao vírus da AIDS. Ao serem colocadas em placas de Petri e expostas ao HIV, menos de 20 por cento de todas as células foram infectadas.

Genes Defeituosos 

“Os  siRNAs sintéticos são uma poderosa arma”, disse Irvin S.Y. Chen, diretor do Instituto da AIDS da Universidade da Califórnia e um dos autores da pesquisa. “O que os cientistas tem problemas é sobre como colocá-los de forma ativa no sistema imune. Não basta apenas borrifá-los nas células”, concluiu o pesquisador. 

Baltimore e Chen afirmam que a técnica pode se tornar um importante novo tratamento para pessoas que já possuem o HIV. “Nossas esperanças são de que a técnica possa ser utilizada em conjunto com outras drogas no combate à Aids, em especial para pessoas que possuem problemas com o tratamento convencional”, afirmou Baltimore. 

De acordo com Chen, a técnica pode também ser utilizada para tratar doenças em que um gene específico precisa ser “desligado” nas células, como os genes defeituosos associados a alguns tipos de câncer. “Podemos fabricar siRNAs facilmente, usando um transporte para colocá-los nos diferentes tipos de células, e desligar certos genes defeituosos”, concluiu. Além disso, a técnica poderia também impedir que certos microorganismos invadissem o corpo humano.  
02/11/2004