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Cientistas de Harvard pretendem clonar embriões humanos

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Esta semana cientistas da Universidade de Harvard enviaram um pedido de autorização à Comissão de Revisão Institucional (uma espécie de Comitê de Ética da universidade) para realizar a clonagem de embriões humanos e retirar células-tronco para pesquisas científicas. Caso consigam autorização, eles serão os primeiros a ter permissão para este tipo de experimento nos Estados Unidos.    “Queremos autorização para realizar um processo chamado transferência do núcleo de células somáticas, a Clonagem Terapêutica”, disse o Dr. Charles Jennings, diretor executivo do Instituto de Células-Tronco de Harvard. Eles pretendem clonar pacientes do Hospital de Harvard, que teriam ciência de que suas células seriam utilizadas para a pesquisa científica de sua doenças, como o mal de Alzheimer.

Com isso, esperam conseguir embriões que já carreguem componentes genéticos da doença. “Não podemos simplesmente abrir a cabeça de um paciente com Alzheimer e retirar de lá os neurônios, mas podemos criar células deste paciente e transforma-las em neurônios, já predispostos a ter a doença”, disse.

O Dr. Jennings fez questão de enfatizar que as células serviriam apenas para a pesquisa das doenças, e não para utilização em terapias. Além disso, ressaltou que os cientistas são contrários á clonagem para a geração de bebês. 

Em entrevista a vários meios de comunicação, o pesquisador defende a clonagem também como forma de “impedir que os Estados Unidos fiquem para trás (tecnologicamente)”.  Ele refere-se ao pioneirismo de cientistas norte-coreanos no início do ano, o primeiro do mundo a realizar a Clonagem Terapêutica. Além disso, pesquisadores da Universidade de Newcastle, na Inglaterra, foram autorizados em agosto a começar estudos com o mesmo objetivo. 

Cobaias Humanas

Nos Estados Unidos a iniciativa de reproduzir embriões com este objetivo foi tomada por pesquisadores de Harvard liderados pelo cientista Douglas Melton. Eles anunciaram que utilizariam fundos privados para a criação de novas linhagens de células-tronco à partir de embriões descartados por clínicas de fertilização. 

Até mesmo grupos anti-aborto no EUA apóiam a iniciativa, pois estes embriões seriam descartados após o tratamento. Outra prerrogativa nestas pesquisas é que os embriões sejam doados pelos casais que participaram do processo de fertilização in vitro.

Por outro lado, o porta-voz da Conferência de Bispos Católicos dos EUA, Richard Doerflinger, afirma que “esta pesquisa cria a vida humana em laboratório somente para destruí-la”. A instituição, como muitas outras nos Estados Unidos e no mundo, se opõe às pesquisas com células-tronco, pois alegam que desde a fertilização o embrião deve ser considerado um ser humano. “Isso (a pesquisa) reduz a procriação a apenas um processo para criar cobaias humanas de pesquisa”, conclui.    Eleições

A declaração vem de encontro a uma série de discussões sobre ética e ciência realizadas hoje nos Estados Unidos e no mundo, e cujo tema central é clonagem de embriões. Nos EUA, o tema já é um dos principais pontos abordados nos debates entre os candidatos à presidência naquele país, ao lado de temas como emprego e a Guerra do Iraque.

Desde 2001 o governo Bush desautorizou todo tipo de financiamento a pesquisas que utilizem células-tronco, sob a alegação que o dinheiro de contribuintes contrários ao estudo não poderia ser gasto neste tipo de pesquisa. No entanto, o governo não se pronunciou quanto às pesquisas custeadas pela iniciativa privada, evitando discussões legais e éticas mais acirradas sobre o tema.

Enquanto isso, John Kerry, do Partido Democrata, é favorável a todo tipo de pesquisas com células-tronco, e afirma que, se eleito, pretende legalizar o apoio financeiro de instituições públicas a este tipo de estudo.

No Brasil

No Brasil a discussão em torno da clonagem de embriões envolve também a regulamentação vigente, que deve ser alterada pela Lei de Biossegurança. Atualmente comunidade científica, organizações não-governamentais e representantes de vários grupos da sociedade aguardam a votação que será realizada na Câmara dos Deputados.

Pelo atual projeto, a Lei de Biossegurança favorece em parte aqueles que defendem as pesquisas com células-tronco, pois permite a utilização de embriões congelados há mais de três anos e que seriam descartados pelas clínicas de fertilização, mas proíbe qualquer tipo de clonagem, tanto terapêutica quanto para a reprodução de seres humanos.

Em sua primeira versão, aprovada na Câmara dos Deputados no início do ano, a lei determinava o oposto. Por influência da bancada evangélica, contrária à utilização dos embriões, o texto então redigido pelo deputado Renildo Calheiros (PC do B-PE) determinava a proibição a qualquer utilização de embriões humanos para fins científicos.

À época, a comunidade científica e outros interessados em todo o país pressionaram para que houvessem mudanças na lei, quando esta fosse enviada ao Senado.  Na ocasião, várias instituições tomaram partido a favor da clonagem, inclusive o presidente da FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), Carlos Vogt, que afirmava ser “um atraso para desenvolvimento do país” impedir este tipo de pesquisa. 

Por não se tratar apenas da questão da utilização de embriões, a lei de Biossegurança vêm sendo intensamente debatida em todas as esferas da sociedade. O texto traz também determinações importantes para o mercado e a pesquisa agropecuária brasileira, através de regras claras relacionadas com as pesquisas,  plantio e comercialização de transgênicos e da divisão dos poderes de fiscalização,  do estudo e aprovação destes produtos no país.  
14/10/2004