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Luta contra o angioedema hereditário

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Em alguns tipos de doenças raras e pouco conhecidas, as suas manifestações podem levar os médicos a um diagnóstico equivocado, podendo agravar o estado do paciente e dificultar o tratamento. Nesse contexto, está inserido o angioedema hereditário, doença autossômica dominante, causada por uma mutação genética. Atualmente, são conhecidas mais de 200 mutações que podem desencadear o angioedema.


Caracterizada pelo aparecimento de inchaços na pele, principalmente no rosto, órgãos genitais, tórax, mãos e pés, ela é muitas vezes confundida com reações alérgicas severas a alimentos e medicamentos.

Interessada em aprofundar o conhecimento sobre essa doença, a coordenadora da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FMRP-USP), professora Luisa Karla de Paula Arruda, desenvolveu uma pesquisa para analisar esse distúrbio em cinco gerações de uma família da cidade de Carmo do Rio Claro (MG), em um total de 275 pessoas, das quais 165 foram entrevistadas e analisadas.

Os resultados mostraram a existência de uma mutação, até então desconhecida, no gene inibidor C1 (c.351delC), na qual foi possível observar a deleção da citosina de um nucleotídeo no éxon 3 (segmento codificador) do gene serping1. A conseqüência foi uma modificação prematura no códon de terminação (stop códon) – trinca de nucleotídeos do RNA mensageiro que sinaliza o final da tradução.

Esse inibidor bloqueia várias vias metabólicas no organismo, dentre elas aquela responsável pela produção da bradicinina, uma substância que atua na dilatação dos vasos aumentando a permeabilidade. Quando ela está ausente, o líquido transborda para os tecidos e causa o edema.

A pesquisadora informou à Agência FAPESP que a identificação do angioedema se dá por meio de análises laboratoriais nas quais são determinadas a quantidade e a atividade enzimática do inibidor de C1, além da dosagem de C4 – proteína cujo nível reduz quando há a mutação. Ela acrescentou ainda que o diagnóstico final, e mais preciso, seria identificar uma mutação no gene, como ocorreu na pesquisa desenvolvida por ela, porém, a realização do exame não é rotina entre os médicos.

Por meio do sequencimento, os pesquisadores puderam concluir que se houver a transcrição – síntese de RNA a partir do DNA – a proteína formada não terá atividade biológica. Dos membros da família analisada, 28 possuíam as características específicas para o diagnóstico da doença, além disso, eles carregavam a mutação c.351delC.

Sendo essa uma doença sem cura, a pesquisadora alertou a importância de tratar com eficiência as crises. No caso de crianças que nascem de famílias com histórico de angioedema, é possível realizar o aconselhamento genético após exames que vão dizer se há ou não a mutação.

02/09/2011
Arlei Maturano - Equipe Biotec AHG