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Alvos certos contra MRSA

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A Staphylococcus aureus, juntamente com a Escherichia coli, é uma bactéria responsável por grande variedade de infecções, podendo ser classificadas de leve a moderadas, de forma mais superficial (pele e partes moles) e aquelas envolvendo elevada morbidade e mortalidade, como a infecção de corrente sangüínea e a pneumonia.

Quando os primeiros casos de infecção por S. aureus foram diagnosticados, a terapêutica era realizada apenas pela administração de penicilina e a infecção era controlada. No entanto, ao longo do tempo, essa bactéria se adaptou ao tratamento, ao desenvolver uma enzima inativadora (por hidrólise) da penicilina - a beta-lactamase, anteriormente conhecida por penicilinase. Ainda na década de 60, foi produzida uma penicilina semi-sintética e resistente à beta-lactamase, conhecida como meticilina, porém, um ano mais tarde a bactéria se torna novamente resistente, surgindo a S. aureus resistente à meticilina (sigla em inglês, MRSA).

Devido à alta incidência de infecções por essa bactéria, seja em ambiente hospitalar ou fora dele, e também à resistência adquira ao longo dos anos, diversas pesquisas vêm sendo desenvolvidas com o intuito de buscar tratamentos mais eficazes, dentre eles a produção de uma vacina antiestafilocócica. Esse foi o foco principal de dois estudos publicados recentemente em importantes revistas científicas (Journal of Experimental Medicine e PLoS Pathogens), onde cada um deles buscou abordar diferentes aspectos da doença. Ambos tiveram como autor principal o professor de microbiologia da Universidade de Chicago, EUA, Olaf Schneenwind.  

Uma das características da S. aureus é a formação de abcessos nos tecidos do hospedeiro, dos quais ela se utiliza para replicação que ocorre no centro das lesões. Dessa forma, a bactéria consegue se proteger do sistema imunológico por meio da formação de uma pseudocápsula. De posse desse conhecimento, no estudo intitulado - Contribution of Coagulases towards Staphylococcus aureus Disease and Protective Immunity – os pesquisadores utilizaram a técnica de coloração histoquímica para identificar a protrombina e a fibrina dentro dos abcessos e das pseudocápsulas.

Nesse estudo, os cientistas conseguiram mostrar que a coagulase (COA) e o fator de ligação protéica von Willebrand (vWbp) – ambos fatores de coagulação - sintetizados e secretados naturalmente pela bactéria, são, juntos, necessários para a formação dos abcessos. Além disso, esses elementos realizam a ativação não proteolítica da protrombina e clivagem do fibrinogênio. Essas reações são inibidas por antibióticos específicos que, atuando sobre a Coa e o vWbp, protegem o hospedeiro contra a formação dos abcessos, sendo também letal para a bactéria.   

A segunda abordagem desenvolvida pelos pesquisadores e reproduzida no artigo, Nontoxigenic protein A vaccine for methicillin-resistant Staphylococcus aureus infections in mice, descreve os mecanismos que envolvem a infecção por essa bactéria. Esse processo não está diretamente ligado à imunidade, mas sim com o envolvimento de uma proteína produzida pela bactéria, chamada proteína A estafilocóccica (staphylococcal protein A, SpA).

Essa molécula protéica, que está localizada na superfície desse microorganismo, se liga ao receptor de imunoglobulinas (Ig) Fcγ e à porção Fab dos receptores celulares do tipo VH3-tipo B. A ligação da proteína com esses elementos interfere com a remoção opsonofagocítica da bactéria e com a diminuição da resposta imune adaptativa.      

A partir dessa informação, os pesquisadores conseguiram demonstrar que por meio de mutações nos cinco domínios de ligação de Ig, da proteína Spa, e com substituições de aminoácidos, pode-se interromper a ligação da variante protéica SpaAKKAA ao receptor Fcγ ou à porção Fab do VH3 e estimular a apoptose das células B.  

Utilizando camundongos, os cientistas imunizaram os animais com a variante SpaAKKAA, causando o aumento da quantidade de anticorpos que bloqueavam a virulência da bactéria, promovida pela remoção opsonofagocítica. Esse procedimento de imunização protegeu os animais das cepas MRSA e estimulou os camundongos a determinar uma resposta para diferentes tipos de antígenos estafilocóccicos.  

Os resultados promissores conquistados nas duas pesquisas combinados, podem estabelecer novos parâmetros para o desenvolvimento de uma vacina que consiga burlar os mecanismos de auto defesa desenvolvidos pela MRSA. Seja por meio da utilização das coagulases, da proteína A estafilocóccica ou da combinação das duas, a obtenção de uma vacina contra a S. aureus pode ser bastante factível.
21/08/2010
Arlei Maturano - Equipe Biotec AHG
 

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