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Ácidos graxos combatem glioma

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Diversos estudos vêm sendo conduzidos por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP), no intuito de tentar compreender o mecanismo pelo qual, as moléculas conhecidas como ácidos graxos poliinsaturados (AGPI) conseguem inibir a proliferação de células tumorais de gliomas (neuroglioma) - tumor do sistema nervoso central desenvolvido a partir das células gliais - e outros cânceres cerebrais. O maior entendimento desse processo poderá levar à identificação de alvos para a produção de novas drogas antitumorais.
 
Pesquisas sobre o efeito de alguns ácidos graxos poliinsaturados tais como, os eicosanoides e os gama-linolênicos, vêm sendo desenvolvidas pela professora do Departamento de Biologia Celular e do Desenvolvimento e coordenadora do Laboratório de Metabolismo da Célula Tumoral do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP, Alison Colquhoun e sua equipe.

A edição de agosto da revista Molecular Neurobiology traz um artigo, em forma de revisão, intitulado “Lipids, Mitochondria and Cell Death: Implications in Neuro-oncology”, no qual são apresentados os principais resultados das pesquisas realizadas pela professora Alison e sua equipe, sobre os gliomas, a morte celular e a potencial utilidade dos AGPI para tratamentos neuroncológicos.

Esse artigo apresenta um breve resumo sobre os efeitos dos AGPI sobre diversos processos, tais como, o metabolismo mitocondrial, a proliferação celular e a apoptose. A pesquisa traz à tona também questões sobre os mecanismos pelos quais essa classe de ácidos graxos exerce seus efeitos antitumorais em gliomas, aplicados a modelos experimentais.

A atividade inibidora de algumas classes de AGPI já é bem conhecida dos pesquisadores e de acordo com testes realizados in vivo e in vitro¸ essa capacidade tem sido vinculada à indução da produção de espécies reativas de oxigênio (ROS) em tecidos tumorais, causando morte celular.  Essas ROS são moléculas quimicamente reativas contendo oxigênio, como por exemplo, os íons de oxigênio e peróxidos, podendo ser orgânicas ou inorgânicas.

Mesmo tendo conhecimento sobre a capacidade inibidora dos AGPI, pouco se sabe sobre os mecanismos de ação dessas moléculas, principalmente sobre alguns tumores cerebrais. Os experimentos mostram que há uma relação direta entre a perda da enzima hexoquinase proveniente dos VDAC (Voltage-dependent anion channel) - principais constituintes da membrana externa da mitocôndria – e da proteção das células a partir da apoptose. Nesse caso, os cientistas descobriram também que os AGPI podem induzir a perda da hexoquinase ligada nas células tumorais.   

Ao analisarem o metabolismo das células tumorais, a equipe de pesquisadores notou que a superexpressão da atividade da proteína Akt, inclusive em gliomas, é desencadeada a partir da ação das espécies reativas de oxigênio a essa molécula protéica. Esse mecanismo faz com que as células tumorais se tornem bons alvos para os agentes quimioterápicos, que, assim como os AGPI, produzem as ROS.  A Akt é uma serina-treonina, proteína quinase que desempenha um papel fundamental em vários processos celulares como o metabolismo da glicose, a proliferação celular, apoptose, transcrição e migração celular.

A conclusão a que os pesquisadores chegaram é que se faz necessária uma maior compreensão do metabolismo dos ácidos graxos e eicosanóides em tumores cerebrais do tipo primário e a influência que eles exercem no balanço energético. Partindo desses conhecimentos, os pesquisadores pretendem direcionar para as mitocôndrias os tratamentos contra esses tumores.  Até o momento, as perspectivas de desenvolvimento de novas drogas, de forma a aumentar a sensibilidade do tumor aos tratamentos convencionais, são bastante animadoras, porém a maior parte do conhecimento adquirido ainda necessita de estudos mais aprofundados.
06/08/2010
Arlei Maturano - Equipe Biotec AHG
 

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