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Perfil protéico do veneno de abelha

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Uma parceria entre o Instituto Butantan, pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade Estadual Paulista (Unesp), produziu, pela primeira vez, um lote piloto de soro contra veneno de abelhas africanizadas (Apis milifera) em larga escala. No entanto, para que o produto possa ser utilizado, é necessário a aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) - agência reguladora vinculada ao Ministério da Saúde do Brasil.

A necessidade de produzir esse tipo de soro é reforçada pelas estatísticas de acidentes por envenenamento a partir da ferroada das abelhas. Entre os anos de 2001 e 2006 foram notificados mais de 20.000 casos em todo o país e, apesar disso, não há um tratamento específico para estas vítimas, nem mesmo uma identificação completa dos antígenos presentes nesse veneno.

Os testes e pesquisas realizados no Laboratório de Imunologia, do Instituto do Coração (Incor) da Faculdade de Medicina da USP, durante o seu doutorado, a bióloga Keity Souza desenvolveu o soro contra o veneno deste inseto. O estudo teve como objetivo identificar o perfil protéico do veneno de abelhas por meio da abordagem proteômica e da cromatografia de afinidade, assim como identificar as proteínas alergênicas deste veneno e algumas modificações pós-traducionais, tais como, a fosforilação e a glicosilação, sendo essa última a mais comum em algumas proteínas intracelulares de eucariotos. Após a identificação das proteínas do veneno, foi produzido um soro antiveneno específico e a sua ação neutralizadora testada.

Durante o período em que a pesquisadora identificava as proteínas, uma equipe do Instituto Butantan injetou o veneno em cavalos para que desenvolvessem anticorpos capazes de neutralizá-lo. De posse desse material coletado dos animais, a cientista fez testes para checar a eficácia do produto e tornar a produção mais eficiente sob orientação do professor do Instituto de Biociências da Unesp de Rio Claro, Dr. Mário Palma.  

A partir de ensaios de Western Blotting foi possível identificar as proteínas alergênicas e fosforiladas, e a cromatografia de afinidade, permitiu o reconhecimento de proteínas pouco abundantes. Das 54 proteínas identificadas, 9 nunca haviam sido descritas neste veneno, são elas a MRJP-2 (também encontrada na geléia real), a alfaglicosidase, as transferinas, proteases, quinases e um inibidor de protease. O passo seguinte foi propor um possível mecanismo de ação deste veneno. De acordo com o estudo, a MRJP-8, uma das proteínas identificadas como alergênicas, foi reconhecida pela primeira vez, da mesma forma que os fatores relacionados ao PDGF (do inglês platelet derived grouth factor) e VEGF (do inglês vascular endotelial growth factor).

Esse estudo mostrou que há a possibilidade de produzir um antiveneno específico em cavalos, e que esse produto consegue neutralizar os componentes tóxicos do veneno da espécie A. mellifera, pela neutralização das atividades citotóxicas, hemolíticas e miotóxicas. O volume de soro antiveneno produzido também foi bastante positivo – 5,7 ml – pois é a quantidade suficiente para neutralizar a ação tóxica de até 100 ferroadas. Diante dos resultados satisfatórios do lote de soro produzido, os pesquisadores acreditam que o produto possa ser usado em testes clínicos.
16/07/2010
Arlei Maturano - Equipe Biotec AHG
 

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