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Sars e Gripe do Frango – o risco de novas epidemias

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Mutações genéticas podem oferecer maior risco de contágio

Enquanto novos casos da Síndrome Respiratória Aguda Grave, a Sars (na sigla em inlgês), continuam a aparecer na China, pesquisas mostram que as mutações viróticas são um sério problema para o controle de epidemias. 

A Sars, assim como a Gripe Espanhola (que afetou grande parte da Europa em 1918) e agora a Gripe do Frango, são epidemias que oferecem sérios riscos às pessoas. O consumo de carne contaminada pela gripe avícola, por exemplo, já matou 19 pessoas desde o início da epidemia, em dezembro de 2003. 

Essas epidemias, provocadas por vírus de outros animais que são transmitidos para os homens, já são bem conhecidas pelo homem. O que não se imaginava, no entanto, é que a capacidade dos vírus de se adaptar e passar não só de uma espécie para outra (infectando humanos), mas de um humano para outro, possa ser tão perigosa. Quando um vírus sofre mutação, o resultado pode ser o surgimento de uma nova doença, às vezes mais mortífera que sua antecedente.

Deste modo, essas pesquisas levam a crer que é preciso impedir que os vírus se disseminem enquanto ainda estão em sua forma original, antes que se modifiquem e sejam capazes de se propagar de pessoa a pessoa. Quando isso ocorre, os efeitos podem ser devastadores.  
 
 
Os mecanismos de difusão da SARS

Um estudo publicado recentemente pela equipe do pesquisador Chung-I Wu, da Universidade de Chicago, em conjunto com pesquisadores do Consórcio Chinês de Epidemiologia Molecular da Sars, relata que, durante o período em que a doença se alastrou pelo mundo, três diferentes fases de disseminação ocorreram. 

Na primeira, o vírus causador da doença era idêntico ao encontrado nos animais transmissores, as civetas (espécie de mamífero muito consumido na China), gerando os primeiros casos da doença em um vilarejo em Guandong, na China, em novembro de 2002. 

Na segunda fase, a do contágio em massa, mutações ocorreram no genoma do vírus e o “adaptaram”, tornando-o muito mais contagioso e infectando centenas de pessoas. De lá, um médico infectado hospedou-se em um hotel de Hong Kong, causando a disseminação do vírus ao redor do mundo. Dado o sucesso desta mutação, a adaptação fez com que o número de variantes do vírus diminuísse.    Assim, na terceira etapa do processo, a dos casos mais recentes da doença, a versão encontrada do vírus novamente é semelhante às amostras encontradas nas civetas, os hospedeiros originais.

De acordo com a pesquisa de Wu, pequenas modificações no código genético do vírus ocorreram durante a segunda fase da disseminação. Em uma destas mutações, das mais de 30 mil bases existentes no genoma do vírus, apenas 29 foram modificadas, uma mutação muito pequena.   Entretanto, a mutação mais perigosa foi ainda menor, quando apenas uma “letra” de uma base nucleotídica de RNA do vírus provocou uma mudança fundamental: a alteração de uma proteína conhecida como “esporão” (spike), que permite a invasão das células pelo vírus, tornando-o mais eficiente no contágio de células humanas ao invés de civetas, o hospedeiro original.

A Sars, causada por um coronavírus (que tem esse nome porque sua forma se assemelha à coroa solar), mostrou-se tão forte e perigosa que foi necessário o esforço conjunto de dezenas de laboratórios e governos para ser isolada. Mesmo assim, novos casos voltaram a aparecer na China em janeiro  Em pouco mais de um ano, a doença foi capaz de infectar mais de 8.000 pessoas e matar cerca de 800 em 32 países.   


 
A devastação da gripe espanhola

A gripe espanhola, também variante de um vírus que originalmente só se instalava em animais, vitimou cerca de 20 milhões de pessoas em 1918, mais do que a Primeira Guerra Mundial.

Pesquisas recentes revelaram que o vírus que vitimou milhões no século passado é quase idêntico ao causador da gripe em aves, do qual é proveniente. A única diferença, no entanto, estaria na proteína utilizada para invadir as células do hospedeiro, adaptada para as células humanas. A semelhança com o vírus das aves, inclusive, pode ter sido o fator que tornou a gripe espanhola tão letal, uma vez que o organismo humano desconhecia este tipo de estrutura.

A pesquisa foi elaborada por Sir John Skehel, do Instituto Nacional de Pesquisa Médica em Londres, e Ian Wilson, do Instituto de Pesquisa Scripps, na Califórnia (EUA). Eles revelaram que um trecho da proteína H1 (hemaglutinina), responsável por abrir a “fechadura química” (receptores) das células dos pulmões, era um pouco diferente no vírus da gripe espanhola. Tal alteração permitia a invasão sem defesa das células do organismo.   
 
 
Gripe do Frango   
 
Provocada pelo H5N1, um vírus que infecta aves e que, em humanos, pode causar a morte, a Gripe do Frango é a mais recente epidemia de proporções globais que desafia governos e criadores de aves em todo o planeta. A doença já se espalhou por 10 países da Ásia, entre eles China, Vietnã, Tailândia, Coréia do Sul e Paquistão.

Para evitar que doença se espalhe, os governos dos países envolvidos já ordenaram o abate de milhões de aves, mas a epidemia continua a avançar. Até o momento, a Gripe já matou 22 pessoas e levou à destruição de mais de 50 milhões de aves.

Enquanto isso, outra variedade do vírus da gripe avícola, o H7, foi encontrada nos Estados Unidos, no estado de Delaware, o que levou o país a ordenar o abate de 12 mil aves. Como medida preventiva, vários países, entre eles Japão, Coréia do Sul e Malásia, cancelaram as importações de aves norte-americanas.

O Brasil, maior exportador de carne de aves do mundo, ainda não apresentou nenhum caso da doença.

Como nos casos da Sars e da Gripe Espanhola, a grande preocupação em relação à Gripe do Frango é a possibilidade de que o vírus causador da doença modifique-se e torne-se capaz de se transmitir entre os seres humanos.    A preocupação com este tipo de mutação aumentou mais ainda nesta semana, quando virologistas da Tailândia descobriram o vírus em gatos, tigres e leopardos de um zoológico no país. É a primeira vez que se encontra esse vírus em felino. Assim, a grande preocupação dos especialistas é que, se o vírus da Gripe do Frango se mesclar com a gripe humana e conseguir passar de pessoa a pessoa, pode surgir uma nova epidemia para a humanidade. 
 
 
19/02/2004
 

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