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Jovens Biotecnólogos no combate à malária

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A malária coexiste com o homem desde a sua existência sendo a maior força de seleção evolucionária no genoma Humano (uma criança morre em cada 30 segundos na África), contudo apenas recentemente estudos mais aprofundados desta doença têm sido desenvolvidos, nomeadamente na parte molecular. A malária é causada por um parasita (Plasmodium falciparum) transmitido por um vetor (Anopheles sp). Existem cerca de 400 espécies diferentes de mosquitos Anopheles dispersos pelo mundo, mas apenas 60 são vetores da malária sob condições normais e apenas 30 destes têm grande importância. Assim, esta doença resulta da estreita interferência destes três fatores: homem, mosquito e parasita. O controle e monitoramento desta doença são obviamente muito amplos e os trabalhos de pesquisa devem debruçar-se entre os três intervenientes.  

O primeiro programa global de controle de malária surgiu em meados do século passado coordenado pela WHO (World Health Organization) e visava a erradicação do vetor. Infelizmente, os resultados não surgiram como esperados e as conseqüências levaram a uma total reestruturação do planejamento do controle da doença. Historicamente, o controle da malária começou com o uso de quimioterapia afetando o parasita. O uso de antimaláricos é bastante antigo e é a área de controle com mais impacto sobre malária. Contudo, a capacidade de aquisição de resistência pelo P. falciparum dificulta a tarefa e tem sido a variável que mais tem preocupado em todos os aspectos da doença.

Como a malária persiste em ser a doença que mais crianças mata no mundo, uniões de esforços têm surgido para tentar controlar a doença com grande investimento, como por exemplo, Bill Gates Foundation, Bush Iniciative e outros consórcios espalhados por inúmeros países.

A vacina para a malária continua a grande miragem nesta área e o grande objetivo em curto prazo está em compreender os mecanismos de resistência a antimaláricos. Como ainda não se conseguiu desenvolver uma vacina eficaz para o combate da doença, o controle da malária assenta majoritariamente na terapia com fármacos antimaláricos e na prevenção.     A malária é uma doença que ainda não está controlada e apesar das prioridades serem os tratamentos de emergência e diagnósticos efetivos, a prevenção pode fazer toda a diferença no sentido de reduzir o risco de infecções e mortes. A estratégia de prevenção da malária inclui, entre outros, o controle do vetor e a proteção das pessoas contra a mordida dos mosquitos. Por sua vez, a tentativa de controle tem sido através da combinação de fármacos (uma vez que o parasita adquire resistência a monoterapias), bednets e inseticidas como o DDT (que agrava a resistência do mosquito fazendo com que a transição aumente). 

O que tem sido feito nos últimos tempos em termos de monoterapias são trabalhos de resistência aos principais antimaláricos (Cloroquina e Sulfadoxina-Pirimetamina). Nas últimas décadas, a pesquisa dos mecanismos moleculares destes fármacos levou à identificação de marcadores moleculares que estão sendo usados para monitorizar níveis de resistência e ajudar a decidir "Drug Policies". Para aumentar a eficiência dos antimaláricos, terapias combinadas estão sendo introduzidas para reduzir o risco de resistência usando Artemisinina mais um partner especialmente nas zonas Holoendémicas.

No decorrer das ultimas décadas, o aparecimento e propagação de parasitas resistentes à maior parte dos antimaláricos disponíveis têm-se revelado como principal obstáculo a uma eficiente contenção da malária. O uso de marcadores moleculares tem sido proposto como ferramenta adicional para a detecção precoce de fármacos resistentes à doença.

A Malaria Research Unit é um Laboratório no Karolinska University Hospital, Suécia, onde dois Jovens Biotecnológicos orientados pelo Prof. Anders Bjorkman, juntamente com outros investigadores e médicos, trabalham em epidemiologia molecular em parceria com países endêmicos na tentativa de descobrir novas formas de controle para esta incrível doença. Vários países em cooperação com a Suécia estão na frente da luta contra a doença. Globalmente, diversos laboratórios em diversos países interagem para obter resultados positivos. A unidade trabalha com vários países: Portugal, Inglaterra, Suíça, Japão, Papua Nova Guiné, Tanzânia, Guiné Bissau, Honduras, Colômbia, Madagascar, Quênia, entre outros. Colaborações com o Brasil serão certamente bem-vindas. A linha científica da Unidade é Malária na sua vertente de resistência. A sua constituição é antiga, mas com a introdução da área molecular foi recentemente remodelado organicamente e fisicamente. Diversos sponsers estão envolvidos com a Unidade sendo os principais a Fundação Sueca para a Ciência, União de Bancos Suíços, Comunidade Européia, entre outros.    Os jovens Biotecnólogos Pedro Ferreira e Isabel Veiga, formados em Portugal, realizaram seus projetos finais de curso nesse laboratório. “Após finalização deste, e como o projeto foi bem sucedido fomos convidados a continuar aqui para fazer investigação”, explica Isabel Veiga. Sendo um dos locais mais avançados na pesquisa biomédica, é difícil contabilizar quantos trabalhos publica o Instituto Karolinska por ano. “Sabendo que o Karolinska tem mais de 300 professores associados imagina o número de trabalhos lançados anualmente”, elucida a jovem pesquisadora.     “Eu trabalho na identificação e caracterização de transportadores envolvidos na resposta a antimaláricos e desenvolvimento de novas tecnologias moleculares, projeto que comecei a desenvolver em colaboração com o Instituto Sanger (Inglaterra), Instituto Ehime (Japão)”. Ferreira estuda novos mecanismos de resistência especialmente relacionados com a Artemisinina e desenvolvimento de métodos de imagiologia para P. ciparum em colaboração com o Departamento de Bioquímica e Biofísica no Instituto Karolinska e Departamento de Biologia no Instituto de Tecnologia em Osaka (Japão)”, explica Isabel.

Segundo ele, a malária é um grave problema mundial de saúde pública e necessita ser resolvido urgentemente. Diversas medidas estão sendo tomadas e este momento é de especial expectativa por diversas razões. No Brasil, a situação esta relativamente controlada, tendo em vista que o País é considerado mesoendêmico onde a malária está confinada a áreas especificas nomeadamente a bacia Amazônica. “No futuro a esperança está numa vacina. Contudo, pessoas continuam morrendo, especialmente crianças, e pesquisas em quimioterapia é a solução em curto prazo”, conclui o pesquisador.

  
19/03/2006
 

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