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Pesquisadores ingleses devem clonar embriões humanos

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O pesquisador responsável pela clonagem da ovelha Dolly em 1997, Ian Wilmut, conseguiu agora autorização da Autoridade de Fertilização Humana e Embriologia (AFHE) para realizar a clonagem de embriões humanos. Esta é apenas a segunda autorização do tipo que a agência já forneceu a pesquisadores no Reino Unido desde que a clonagem foi autorizada no país, em 2001.

“Nosso objetivo é produzir células tronco com objetivo puramente científico”, disse em nota Wilmut, que é pesquisador do Instituto Roslin, em Edinburgo (Reino Unido). Além dele, Paul de Souza, também do Instituto Roslin, e Christopher Shaw, do King’s College de Londres, coordenarão as pesquisas.

Os cientistas pretendem produzir neurônios que contenham os genes causadores da Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA). Para isso, pretendem clonar embriões humanos que já possuam a doença, com o objetivo utilizar suas células-tronco.

Para os pesquisadores, esta será uma oportunidade única de se estudar o caso. “Pretendemos comparar o comportamento e desenvolvimento químico de neurônios defeituosos e normais”, disse o professor Shaw.

Além disso, os pesquisadores deverão também estudar novas drogas capazes de impedir ou até reverter o processo degenerativo causado pela doença. 

Segundo o comunicado, o projeto deve gastar cerca de 100 mil libras (US$ 185 mil) para experimentar centenas de milhares de combinações diferentes de medicamentos em um ano, ao passo que, se as drogas fossem testadas em pacientes, o custo seria de 20 mil libras (US$ 37 mil) e dois anos de testes para cada novo medicamento.

Doença desconhecida

Em vinte anos de pesquisas, a Esclerose Lateral Amiotrófica pode ser considerada, ainda, praticamente desconhecida. Neste período, os médicos conseguiram levantar somente um gene relacionado à doença, chamado SODI, responsável por apenas 3 a 5% de todos os casos.

Causada por fatores genéticos, a enfermidade leva à degeneração e morte dos neurônios motores encontrados no cérebro e na medula espinhal, responsáveis pelos movimentos do corpo. Assim, os músculos do corpo acabam se tornando fracos e atrofiados. Com o tempo, as pessoas que sofrem da doença perdem a capacidade de falar, comer e se locomover, levando à morte.

Clonagem Terapêutica

“Este será um grande avanço no estudo da doença”, diz Wilmut. “Demoramos 20 anos pesquisando a ELA e só chegamos a um gene. Acreditamos que esta pesquisa irá acelerar nosso conhecimento sobre porque os neurônios se degeneram, sem antes termos de procurar os genes responsáveis”, completou.

Para conseguir os embriões, os cientistas utilizarão uma técnica de substituição do núcleo celular, conhecida como Clonagem Terapêutica. No procedimento, eles deverão retirar núcleos de óvulos e, em seu lugar, colocar os núcleos de células da pele ou do sangue de indivíduos que possuam a ELA causada por fatores genéticos.

Os embriões que se desenvolverem devem crescer até ao estágio de 200 células. Nesta etapa, são destruídos e as células provenientes deles são direcionadas, através de técnicas especiais, a desenvolverem-se como neurônios.

Os cientistas negam veementemente a possibilidade de clonagem, e afirmam que os embriões não devem passar de 14 dias. “Assim que as células-tronco forem removidas, todas as outras células serão destruídas”, ressalta o Dr. Wilmut.  “As células embrionárias serão utilizadas somente para o estudo da ELA”, disse.

“Estamos muito contentes com a decisão da AFHE, agora que temos a licença, só precisamos levantar as verbas necessárias, o que mais fácil falar do que fazer”, concluiu o pesquisador.

A questão ética

Hoje em dia, a clonagem de embriões humanos é uma polêmica questão que se coloca para as pesquisas com células-tronco embrionárias. Há anos grupos da sociedade vêm lutando contra este tipo de pesquisa, alegando que este seria o primeiro passo na direção da clonagem de pessoas.     Outros segmentos afirmam que a destruição de embriões, necessária para a retirada de células-tronco, seria equivalente ao aborto. 

Por outro lado, defensores da utilização de embriões em pesquisas alegam que os resultados seriam compensatórios e que as células podem contribuir para o desenvolvimento de novas técnicas e medicamentos, além das possibilidades de cura que representam a muitos doentes ao redor do planeta.

Em vários países, o debate acerca da legalização ou proibição da utilização de células-tronco embrionárias e da produção de embriões com este o objetivo ainda está em andamento. Geralmente os debates circulam em torno da questão ética, religiosa e também científica.    No Brasil, o tema está para ser regulamentado pela Lei de Biossegurança, que já foi votada na Câmara e no Senado mas, em função das modificações e emendas ao texto original, necessita agora de nova votação. 

A última versão da Lei de Biossegurança permitia a utilização, para fins de pesquisa, de embriões humanos provenientes das clínicas de fertilização, congelados há mais de três anos, e que seriam descartados. Com isso, pesquisadores poderiam retirar células-tronco embrionárias para realizar estudos científicos ao passo que não seriam gerados novos embriões para este fim.

Alguns países, como a Coréia do Sul, já autorizam a clonagem de embriões para pesquisas científicas. Lá, uma equipe de pesquisadores da Universidade de Seul realizou, no início de 2004, a clonagem de embriões com o objetivo de conseguir células-tronco. Liderados por Woo Suk-Hwang, recentemente a equipe sul-coreana recebeu autorização para a realização de mais pesquisas.  
08/02/2005
 

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