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Diferenças genéticas influenciam ação do HIV

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Pessoas que possuem mais cópias de um gene que ajuda no combate ao HIV são menos propensas à infecção pelo vírus ou a desenvolver a AIDS do que aquelas descendentes de pessoas da mesma região geográfica do planeta.

A descoberta, realizada por pesquisadores do Instituto Nacional de Alergias e Doenças Infecciosas dos Estados Unidos (NIAID, na sigla em inglês), deve ajudar a compreender melhor como determinadas diferenças genéticas podem influenciar o comportamento do vírus HIV no organismo humano, e ajuda a explicar porque algumas pessoas são mais propensas a contrair o vírus.

Os resultados também abrem caminhos para o desenvolvimento de testes que demonstrem a propensão de alguém à doença, o que permitiria a aplicação de novos procedimentos, testes de vacinas e terapias direcionados de acordo com a susceptibilidade de cada paciente. 

Ancestralidade

O estudo, que foi publicado na Science Express, versão on-line da revista científica Science, no dia 6 de janeiro, utilizou amostras de sangue de 4300 voluntários norte-americanos, entre portadores e não-portadores do vírus HIV.

Segundo os cientistas, as diferentes populações do planeta possuem quantidades diferentes um gene que codifica a proteína CCL3L1, importante bloqueador da ação do HIV no organismo. Esta proteína se liga aos receptores CCR5, os mesmos utilizados pelo vírus como porta de entrada para invadir as células. As pessoas de descendência africana possuem em média 4 cópias do gene, enquanto os hispânicos possuem três e os europeus apenas duas.

“O risco individual de contrair o HIV e também a velocidade de progressão da doença (a AIDS) não são uniformes de acordo com as populações”, afirma o Dr. Anthony S. Faucy, diretor do NIAID.

De acordo com ele, o que interfere na susceptibilidade ao vírus não é a diferença genética entre as populações, mas sim a relação entre a quantidade de genes que possui o indivíduo e a média de sua população.

Um africano que possua apenas três cópias do gene CCL3L1, por exemplo, possui mais chances de contrair o HIV que um europeu que tenha a mesma quantidade de cópias.

Dependendo da população, cada cópia do CCL3L1 a mais diminui entre 4,5 e 10,5% as chances de se contrair o HIV, enquanto cópias a menos estão associadas a um risco de desenvolver mais rápido a AIDS que pode ser de 39 a 260% maior.

"Este trabalho aumenta significativamente nosso conhecimento sobre o papel central de moléculas que interagem com o receptor CCR5, que podem influenciar a susceptibilidade ao HIV/AIDS", disse Carl Dieffenbach, supervisor de pesquisas da Divisão de AIDS do NIAD. 

"Além disso, o estudo enfatiza a importância de se saber todas as variações genéticas humanas e o impacto que elas podem ter na susceptibilidade humana a doenças infecciosas", completou Dieffenbach.    Interleukinas    Dois dias antes do anúncio realizado pelos norte-americanos, outros pesquisadores dos Estados Unidos revelaram os resultados de outra pesquisa interessante sobre o HIV.

Alguns pacientes, ao serem submetidos a tratamentos de combate ao vírus, conseguiram reduzir a quantidade de vírus no organismo a níveis indetectáveis. Nesse período, o HIV permanece "escondido" em um estado de latência.

Realizado no Centro Jefferson para Virologia e Defesa Humana da Universidade Thomas Jefferson, nos Estados Unidos, o estudo norte-americano procurava descobrir como retirar o vírus deste estado, para que possa ser combatido efetivamente.

Comandada por Roger Pomerantz, a equipe norte-americana descobriu uma proteína, a interleukina-7, capaz de retirar alguns subtipos de HIV de seu "esconderijo".

"A única forma de curar esta doença é se livrando do vírus latente. É um pouco como tratar um câncer. É preciso dar um tratamento de indução para bloquear a carga viral, e depois utilizar este método para se livrar da doença residual, assim como na quimioterapia", disse Pomerantz.    Nos estudos, os pesquisadores utilizaram amostras de sangue de pacientes soropositivos que já haviam passado por tratamentos com medicamentos anti-HIV (conhecido como Terapia Antiretroviral Altamente Ativa), e que possuíam níveis indetectáveis do vírus no organismo.

Em seguida, passaram a estimular o vírus através de drogas e proteínas diferentes. A melhor resposta foi conseguida com a interleukina-7. Antes dela, outros estudos, realizados com a interleukina-5, já indicavam o potencial destas proteínas de estimular o HIV latente.

O Dr. Pomerantz ainda acrescentou que o tratamento com interleukinas parece ser inofensivo à saúde, e que espera ter autorização, dentro de um a dois anos, para aplicar a terapia em pacientes portadores do HIV.    A luta africana    Enquanto isso, na África, os esforços continuam para tornar mais efetivo o combate contra a disseminação do HIV entre as pessoas. No dia 8 de janeiro, Nelson Mandela, um dos mais importantes líderes do continente, anunciou a morte de seu filho mais velho, Makghato Mandela, 54, vítima de AIDS.

Ao realizar o anúncio, Mandela pediu à comunidade internacional que aumente seus esforços na batalha contra a doença que assola o continente. Além da AIDS, a miséria, a fome e inúmeras guerras contribuem para o estado de pobreza da população africana.

A atitude do presidente serve como um alerta para aumentar as discussões sobre o tema entre os habitantes no continente em que mais de 25 milhões de pessoas sofrem da doença. Na África, a luta contra a disseminação da Aids envolve não só o conhecimento científico, mas também fatores políticos e sociais.  
11/01/2005
 

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