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Diferenças entre certas espécies podem sermenores do que entre raças

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Enquanto pesquisadores do mundo todo trabalham no seqüenciamento genético dos cromossomos humanos, buscando ampliar e refinar o conhecimento obtido no Projeto Genoma Humano (concluído em 2002), dados recentes demonstram que ainda há muito a se pesquisar sobre as relações entre o material genético e as características físicas de um indivíduo.

No Japão pesquisadores evidenciaram que, apesar de serem tão distintos fisicamente, homens e chimpanzés têm 98,5% de DNA idêntico. Ao mesmo tempo, pesquisadores do Reino Unido encontraram diferenças de até 30% entre animais de uma mesma espécie, ao pesquisar certas raças de cachorros.
 

Pequenas alterações, grandes diferenças

Pesquisadores do Centro de Ciências Genômicas Riken, no Japão, em conjunto com outros pesquisadores de Tóquio, de Taiwan e da China revelaram, em pesquisa publicada na edição de 27 de maio da revista “Nature”, o quanto podem ser cruciais pequenas mudanças no DNA.

O grupo, liderado por Asao Fujiyama, comparou o cromossomo 22 dos chimpanzés com seu equivalente nos humanos, o cromossomo 21. A equipe pretendia estudar certas doenças e as diferenças genéticas existentes entre duas pessoas, a fim de criar uma seqüência que pudesse servir de “base” para as variações genéticas humanas.

No estudo os pesquisadores puderam comprovar como alterações minúsculas no código genético podem acabar influenciando, de forma sensível, as características básicas de um ser para outro: “Obviamente, as diferenças genômicas entre humanos e chimpanzés são muito mais complicadas do que a sabedoria convencional tem retratado”, comentou Fujiyama.

Os genes são trechos da seqüência de DNA responsáveis pela codificação de determinadas proteínas em um organismo. No entanto, existem nesses mesmos genes e no código genético em geral alguns trechos que, aparentemente, não são responsáveis pela codificação de nenhuma proteína e cuja importância ainda é desconhecida pela ciência.

Apesar de terem encontrado apenas 1,44% de diferenças entre as espécies, há vastos trechos como estes nos DNAs do homem e do chimpanzé. Na região do DNA responsável pela produção de certas proteínas, no entanto, pequenas diferenças em relação às bases nitrogenadas (Adenina e Timina, Citosina e Guanina) que formam o gene, podem fazer com que o mesmo tenha funções diferentes entre as espécies. Em certos casos, isso pode ocorrer com a alteração de apenas uma dessas bases.    Além disso, entre o material analisado, outra característica chamou a atenção dos pesquisadores: “A presença de mais de 60 mil trechos de DNA que parecem ter sido ganhos ou perdidos de uma espécie a outra”, escreveram os cientistas. “Nossos dados sugerem que essas ‘inserções’ ou ‘deleções’ na área dos genes possam ser as maiores responsáveis pela diferenciação na codificação de proteínas e para a formação de primatas desenvolvidos”, acrescentam.

Isso demonstra como, apesar de parecidos, os DNAs de homens e chimpanzés podem codificar proteínas completamente diferentes. “De fato, 83% das 231 seqüências codificantes, incluindo importantes genes funcionais, apresentam diferenças na seqüência de aminoácidos”, concluiu o grupo.
 
 
Grandes diferenças, mesma espécie
 
Uma semana antes, nos Estados Unidos, outra pesquisa acerca da variabilidade genética e suas influências nos indivíduos de uma mesma espécie demonstrava o quanto pode ser importante a localização dos genes modificados, e não apenas a quantidade de alterações.

Pesquisadores do Centro de Pesquisa do Câncer Fred Hutchinson descobriram que, entre algumas raças de cachorros, pode ser contabilizada uma diferença genética de até 30 por cento, algo que não ocorre por exemplo, com as populações humanas.

Os pesquisadores analisaram o material genético de 85 raças diferentes e as classificaram em quatro grandes grupos: as raças antigas, como o Huskie e o Pequinês; cães de caça, como os Labradores; parentes dos Mastifes, como o Rotweiller; e cães pastores, collies e outros.

De acordo com os pesquisadores, por mais de 400 anos o homem vem criando novas raças através do cruzamento dos cachorros. “Apesar de serem todos da mesma espécie, com o cruzamento seletivo a variação genética se intensificou, principalmente em genes que controlam fatores como tamanho, peso, pelugem, etc”, disse a estudante de graduação Heidi Parker, que participou do projeto. 

Ao pesquisar as diferenças entre as raças e identificar os genes responsáveis por certas características e doenças nos cachorros, os pesquisadores procuram também a solução para problemas humanos . “Há centenas de doenças existentes, e muitas delas têm seu correspondente em humanos”, disse a pesquisadora Elaine Ostrander. 

De acordo com o pesquisador Leonid Krugliak, apesar de não ser observada em outras espécies, a variabilidade genética dos cachorros imensa. “A distinção é tamanha que, se os dados genéticos de duas raças fossem colocados em um computador, ele facilmente reconheceria qual é cada uma, o que não ocorreria com humanos”, conclui.  
 
23/06/2004
 

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