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Material resistente a biofilmes

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De acordo com o Serviço Nacional de Saúde do Reino Unido (NHS), instituição de atuação semelhante ao órgão norte-americano, Centro de Controle de Doenças (CDC), muitos materiais de uso médico e também utilizados em centros cirúrgicos podem levar a infecções sistêmicas, causando inclusive óbito. Isso custa ao sistema de saúde do Reino Unido cerca de 1,3 bilhão de libras ao ano. Na maioria das vezes os materiais contaminados são cateteres venosos e urinários, muito usados nos procedimentos diários, que permitem o crescimento de comunidades bacterianas, também conhecida como biofilme.

A pesquisa foi realizada na Universidade de Nottingham, Reino Unido, instituição que lançou o “2012 Brazil Visiting Fellowship Scheme”, programa que dá a oportunidade para estudantes brasileiros passarem um período estudando na referida instituição, com os custos de acomodação e subsistência cobertos. O projeto científico liderado pelos professores da Escola de Farmácia, Alexander Morgan e Martyn Davies em parceria com Paul Willians da Faculdade de Ciências Médicas Moleculares, e teve seus resultados publicados em 15 de agosto de 2012 na revista eletrônica ChemEurope. O estudo foi financiado pelas instituições britânicas Wellcome Trust e pelo Conselho de Pesquisa Médica.

Tal descoberta lhes rendeu o “Translation Award”, uma premiação dada a projetos de ciências da vida, ciências físicas e ciências computacionais, sendo que cada projeto deve atender a uma necessidade inédita no campo da saúde ou da pesquisa médica aplicada. Devendo trazer também uma solução com potencial inovador para o mercado.

Para a descoberta desse material, os pesquisadores utilizaram novas técnicas, pois os mesmos partiram do principio que para conseguir um material que fosse resistente à colonização bacteriana, significaria obter milhares de triagens diferentes e ensaios das reações das bactérias e sua interação com as superfícies dos materiais já conhecidos.

O projeto foi desenvolvido com a ajuda de peritos do MIT (Massachusetts Institute of Technology), EUA, que já tinham desenvolvido um processo pelo qual centenas de polímeros pudessem ser rastreados simultaneamente. Fato que propiciou revelar estruturas e propriedades relacionadas a abordagem de alto rendimento dos materiais, conduzindo à identificação de novos produtos resistentes à fixação bacteriana e que ainda contribuíram com a redução do tempo desta pesquisa.

Em entrevista à ChemEurope o professor Alexandre Morgan afirmou que foi um grande avanço científico a descoberta deste novo grupo de materiais, que tem a capacidade de reduzir drasticamente a fixação de bactérias patogênicas (Pseudomonas aeruginosa, Staphylococcus aureus e Escherichia coli).

A originalidade destes materiais previnem a infecção, por interromper a formação de biofilme na fase mais precoce, quando a bactéria tenta ligar-se ao dispositivo. No laboratório os especialistas foram capazes de reduzir o número de bactérias em até 96,7%, em testes comparativos com a prata comercialmente disponível em cateteres, e o novo polímero também foi eficaz em resistir à fixação de bactérias impedindo a infecção num modelo de implante em ratos.

Ao evitar a fixação de bactérias patogênicas, o próprio sistema imunológico pode erradicar esses microrganismos antes que os mesmos tenham tempo para gerar biofilmes.

21/09/2012