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Entrevista: Luiz Silvério Silva - Obrigação, Responsabilidade e Sensibilidade Ambiental

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A Biotec AHG entrevistou neste mês Luiz Silvério Silva, diretor da Faculdade de Ciências Administrativas da Universidade Metodista de São Paulo (FCA- UMESP). Não metodista, ex-líder sindical e petista de carteirinha – “três elementos não favoráveis à carreira acadêmica”, como ele próprio brinca, Silvério ocupa há quatro anos o cargo de diretor.

Para a Biotec AHG, Silvério procura explicar como o governo, instituições privadas e sociedade se posicionam em relação às políticas ambientais. Para isso, trata de temas como responsabilidade ambiental, educação e as perspectivas para a gestão ambiental no futuro.

O professor falou também sobre o 4º Encad - Encontro de Administração da FCA/UMESP, evento que reuniu mais de 60 profissionais de diversas áreas em palestras e debates sobre temas como meio ambiente, sustentabilidade, comércio exterior, gestão internacional e finanças e que contou com a participação de profissionais da Biotec AHG.

No evento, Cristiane Tabarelli Barillari - mestre em Recursos Florestais pela ESALQ / USP - e Rafael Andrette - estudante de mestrado em Biotecnologia na USP - ambos integrantes do Depto. Científico da Biotec AHG, ministraram a palestra “Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável”. Também pela Biotec AHG, pertencente ao Jurídico, Dr.Antonio Grillo Neto, advogado, especializado em direito internacional, ambiental, administrativo e empresarial, apresentou a palestra “Lineamentos sobre Biopirataria”.  

Biotec AHG

De que forma você encara o tratamento dado hoje em dia por governos e sociedade à questão ambiental?

Luiz Silvério Silva – Bem, eu diria que a sociedade está acordando. Ou nós nos preocupamos com o futuro, com daqui a 30 ou 40 anos, e observamos o que poderá acontecer, ou não sobreviveremos. 

Aqui em são Bernardo do Campo, por exemplo, há um manancial do qual dependemos. Ou nós cuidamos dessa água, ou não teremos água para beber. Ou cuidamos do verde, ou não teremos ar para respirar, e assim por diante. Esta preocupação (com o futuro) só se resolve com educação.                      

 

EDUCAÇÃO, GOVERNOS E EMPRESAS PRIVADAS

E a educação, como fica nesse processo?

A educação não é a panacéia, o remédio universal, que vai resolver tudo, mas ela é fundamental para mudar a cabeça de crianças e jovens que daqui a 30 anos vão comandar esse país.

As instituições de ensino pensam dessa forma? E as empresas?

Eu diria que elas estão mais preocupadas, hoje. A empresas, com a responsabilidade social, estão começando a se preocupar também, e vão ser vítimas do meio ambiente se este não for bem cuidado. Mas o movimento ainda é iniciante, é preciso ter a conscientização que se dá através da educação.     

E quanto às políticas públicas e governos?    

Eu sinto que existe muita seriedade dos órgãos públicos nessa questão. Há cidades que fazem disso até um carro-chefe. Ribeirão Pires é um exemplo disso. Eles trabalham muito com a questão ecológica e o desenvolvimento sustentável, que traz embutido muito da questão ambiental. 

Nós, aqui em São Bernardo, temos uma parceria com a Ecovias e com a Scania. Nós entramos com a ciência e a educação (em forma de estagiários e pessoas), a Scania fornece o caminhão e a Ecovias participa com a infra-estrutura. Trata-se de um caminhão-escola na beira da Rodovia dos Imigrantes, dando cursos para motoristas e interessados sobre como proteger a mata, preservar o ambiente e o ajudar no reflorestamento da serra do mar.  

De que forma a consciência ambiental influencia as empresas?

As empresas existem em três patamares. No primeiro, todas têm de fazer a Obrigação Social, aquilo que a lei manda. Outras já deram um segundo passo, e foram para a Responsabilidade Social. Elas se sentem co-responsáveis pelo meio ambiente, já pensam “se eu jogar esse lixo aqui, onde não posso, eu não estou só prejudicando a Cetesb mas também o meio ambiente”. Estas já deram um passo à frente, já começam a se preocupar.    Mas existe um terceiro patamar, e neste poucas empresas chegaram, que é a Sensibilidade Social. Elas já estão prevendo o futuro, o que vai acontecer. Estas é que vão contagiar as outras empresas para que tenham mais consciência e saiam da obrigação, passem para a responsabilidade e venham para a sensibilidade. 

 

CULTURA AMBIENTAL E FUTURO

Quais são as perspectivas para o futuro?

Eu diria que não podemos dar um tiro no pé! O desenvolvimento econômico é importante, o progresso é importante, a distribuição da renda é importante, mas o sistema econômico, e nisso eu me refiro à estrutura ideológica que rege o capitalismo, é devastador.

Ele cresce e deixa um rastro de destruição, não pensa na sustentação do planeta. A sociedade tem que descobrir outra forma de crescer economicamente sem ter de derrubar, de matar, de deixar um rastro de destruição. Eu tenho muita esperança na humanidade, acho que ela é sábia, então a humanidade tem de encontrar uma forma de crescer economicamente, dar alimento a todos, dar sustentabilidade, conforto e segurança sem matar seu meio ambiente, preservando a água, a vegetação e a vida, pois vida é o valor supremo!

Em relação às empresas, não é porque uma empresa trabalha com produtos ligados ao meio ambiente que ela “salva” o meio ambiente. Por trás de uma empresa devem existir cabeças que têm essa visão em defesa da ecologia. Por exemplo, você pode colocar pessoas em uma empresa que trata de efluentes e bens de purificação da água que não tem nenhuma preocupação com o meio ambiente! É cultural!

Como realizar essa mudança cultural?

O processo educacional para atingir uma mudança cultural é importante, e tem haver a punição do outro lado, mas somente a multa não funciona. Não adianta você ficar em cima das organizações porque isso não resolve. Senão elas vão ficar sempre na obrigação e vão tentar burlar a lei. Nunca vão para a responsabilidade e muito menos para a sensibilidade. Agora, se você tiver a educação com a penalidade a situação melhora, pois tem que ter essa dosagem de sabedoria junto.

Temos empresas que já estão na sensibilidade. Algumas montadoras, por exemplo, em parceria com sindicatos, realizam um trabalho de preservação muito interessante. Nesses locais, não se derruba óleo no chão porque se tem a consciência que ele vai acabar em um córrego, no meio ambiente. É claro que algo é sempre perdido, mas há a preocupação em não poluir, ou quanto menos, melhor!  



GESTÃO AMBIENTAL

A FCA trabalha com a questão da gestão ambiental? 

Sim, inclusive na faculdade temos disciplinas de Gestão Ambiental na grade regular do curso, mas não é isso que garante a preocupação com o meio ambiente.  A questão ecológica e do meio ambiente é um tema transversal. Embora haja a disciplina, a questão ambiental percorre todos os outros temas presentes na rotina do administrador.     Aqui temos até a campanha de coleta seletiva, estamos colocando em prática isso. E é só um início, pois coletamos uma parte, o Diretório Acadêmico está com um projeto, que envolve toda a Universidade, para fazer a coleta seletiva completa, um trabalho mais esquematizado que já funciona no outro Campus da Metodista. 

A educação ambiental é um trabalho difícil. Temos aqui, por exemplo, 2.800 alunos, e a cada seis meses entram novos alunos. A coleta seletiva não é realizada por todos, se você procurar, vai encontrar “bitucas” de cigarro no chão!

Como isso é colocado para a formação do administrador? 

Aqui na FCA, é o terceiro passo que nós, educadores, tentamos passar para os alunos, como gestores que eles vão ser. Já trabalhamos no patamar da Sensibilidade Social.

A obrigação todo mundo faz! A responsabilidade já é mais avançada, mas sensibilidade é que é o diferencial. Mesmo porque um dos valores é a ética, um compromisso real com os valores da sociedade, que não devemos abrir mão. O direito coletivo é tão importante quanto o direito individual, você tem que respeitá-lo dentro da ética profissional.     

ENCAD    Que tipo de conhecimento o Encad traz aos participantes? 

No Encad a gente traz profissionais da área e do mercado para conversar sobre assuntos relacionados à profissão do administrador como marketing, finanças, e inclusive meio ambiente. Procuramos sempre buscar pessoas de cargos mais altos, como diretores e gerentes, para que o aluno e os convidados tenham uma boa visão do mercado.

O Encad funciona como uma aula. Aqui na FCA não temos esta visão de aprendizado somente na sala da aula, procuramos trazer palestras, seminários e debates. Além disso, no evento temos parcerias com empresas que demonstram seus produtos, pois esse ano o encontro coincide com as festas de 30 anos da FCA.

Para os Alunos, é um diferencial? 

Sim, porque os alunos gostam de contato com pessoas que já são do mercado, e porque eles precisam disso. Temos mais de 60 palestras falando de marketing pessoal a gestão internacional, de acordo com nossos focos de estudo: comércio exterior, finanças, comércio e serviços eletrônicos, secretariado executivo e gestão internacional. As palestras são direcionadas a estes focos e cada aluno segue aquilo que for mais apropriado a sua carreira.

 

 

26/09/2004