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Inativação de supressores tumorais

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A formação de um novo ser, após a fecundação, tem início a partir de uma única célula que sofrerá diversas divisões celulares, passando por várias etapas em seu desenvolvimento, dentre eles, a diferenciação celular – processo pelo qual as células de um organismo começam a se tornar diferentes em sua forma, composição e função. A partir de então, surgem no indivíduo populações de células distintas, formando estruturas, órgãos e sistemas que interagem entre si e desempenham as diversas funções necessárias à sua sobrevivência.

Os tecidos adultos dos mamíferos têm uma capacidade limitada de regeneração, no entanto, em algumas espécies de anfíbios, como os urodelos (salamandras e tritões) e os peixes teleósteos, essa característica é bastante diferenciada. Isso significa dizer que há a possibilidade de regeneração dos tecidos lesionados.

Esse fenômeno se deve, provavelmente, à capacidade que as células adultas dessas espécies desenvolveram durante a sua evolução de retornar ao ciclo celular. As diferenças, em relação à capacidade de regeneração tecidual, entre seres humanos, urodelos e teleósteos, foram o ponto de partida para o desenvolvimento de um estudo realizado por cientistas da Escola de Medicina da Universidade de Stanford, EUA. Os resultados dessa pesquisa podem ser encontrados no artigo intitulado Transient Inactivation of Rb and ARF Yields Regenerative Cells from Postmitotic Mammalian Muscle, publicado na edição, do dia seis de agosto, da revista Cell Stem Cell.

Para tentar entender a causa dessa diferença entre mamíferos e essas outras espécies, os pesquisadores, utilizando camundongos e urodelos, inativaram a proteína supressora de tumor do retinoblastoma (pRb ou Rb). Uma função muito estudada da Rb é a sua capacidade de inibir o crescimento excessivo das células, impedindo a progressão do ciclo celular até o ponto em que elas estejam prontas para dividir-se.

Com a inativação da Rb, os cientistas observaram que houve a indução da proliferação de células pós-mitóticas do músculo esquelético, em urodelos, no entanto, esse processo não ocorreu nos camundongos. Esse resultado levou os pesquisadores a levantarem a hipótese de que o supressor tumoral, ARF–INK4a, presente em mamíferos, mas inexistente nos vertebrados urodelos, é um supressor de regeneração. O locus ARF-INK4a no cromossomo humano 9p21 (ARF - alternative reading frame) desempenha um papel fundamental na supressão de tumores.  

Os pesquisadores constataram que a inativação da ARF e da Rb, ao mesmo tempo, induz as células musculares dos mamíferos a retomar o ciclo celular, resultando na perda da capacidade de diferenciação e da super regulação do mecanismo citocinético. Utilizando a técnica de laser micro-dissection-catapulting, miócitos pós-mitóticos foram isolados. A partir dessa etapa, foi possível observar que a breve supressão da ARF e da Rb produziu colônias de mioblastos que mantiveram a capacidade de se diferenciarem e de se fundirem às miofibras em transplantes in vivo.

Esse estudo mostrou claramente que a ARF e a Rb são importantes elementos para a  supressão de tumores e que esse mecanismo se dá por meio da reversão do processo de diferenciação das células dos mamíferos. Além disso, ratifica a hipótese de que a ARF está diretamente ligada com o processo de regeneração.
13/08/2010
Arlei Maturano - Equipe Biotec AHG
 

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