Brasil seqüenciou primeiro fitopatógeno

A biotecnologia vem sendo uma ferramenta importante para o desenvolvimento da agricultura no mundo todo, por meio do melhoramento genético das plantas, com o objetivo de aumentar a produtividade agrícola, mas também para produzir alimentos de maiores valores nutriticionais e industriais. Há ainda outras possibilidades de melhoria na agricultura com uso da biotecnologia, como por exemplo, a produção de plantas mais resistentes a condições adversas de clima e solo e a pragas. Em consequência disso, diminui a necessidade do uso constante de defensivos agrícolas.
 
Como alicerce da biotecnologia, a biologia molecular tem sido, nos diversos setores do desenvolvimento humano, como por exemplo, a agricultura, um dos elementos chave para a criação e aprimoramento de novas tecnologias. Há 10 anos, cientistas brasileiros realizaram o seqüenciamento da bactéria Xylella fastidiosa (clone 9a5c), bactéria causadora da clorose variegada de citros, popularmente conhecida como praga do amarelinho. Um feito notável e que ficaria marcado para sempre na história da ciência nacional e mundial.

Era a primeira vez que se realizava o sequenciamento do genoma de um fitopatógeno, microrganismo causador de doença em plantas, fato que teve grande destaque no cenário científico mundial.  Apesar disso, esse feito teve relevância maior ainda para a ciência brasileira, pois dava início a uma nova era na biotecnologia no Brasil.

Idealizado pelos pesquisadores Fernando Reinach, na época, professor titular do Instituto de Química da Universidade de São Paulo (USP), e apoiado pelo então diretor científico da FAPESP, José Fernando Perez, o projeto foi destaque na primeira página da revista Nature.

O projeto tomou uma dimensão ainda maior em um país com um setor agrícola tão expressivo, como é o caso do Brasil. Registrada no país pela primeira vez em 1987, a clorose variegada dos citros (CVC), está restrita ao xilema (vasos condutores de seiva) causando o entupimento dos vasos responsáveis por levar água e nutrientes da raiz para a copa da planta. Como consequência disso, a produção do pomar afetado cai rapidamente, os frutos ficam duros, pequenos e amadurecem precocemente. A perda de peso do fruto pode chegar a 75%.

A transmissão e a disseminação da bactéria nos pomares são realizadas por insetos vetores. Como ainda não há uma forma específica de combate à Xylella fastidiosa, os citricultores devem implantar em seus pomares as estratégias de manejo da doença, tais como a eliminação dos ramos infectados por meio da poda, a aplicação de inseticidas e o uso de plantas sadias em pomares novos.

É um consenso entre toda a comunidade científica, no Brasil e no mundo, que esse foi um passo determinante para o desenvolvimento da biotecnologia e da era da genômica em nosso país, beneficiando a economia nacional, principalmente na agricultura. No entanto, muitos frutos podem e deverão ser colhidos, desde que os incentivos, principalmente financeiros, continuem sendo aplicados no desenvolvimento tecnológico e na capacitação dos cientistas brasileiros.

23/07/2010
Arlei Maturano - Equipe Biotec AHG