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Animal marinho captura DNA estranho

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Pesquisadores da Universidade de Harvard observaram que os genomas de simples criaturas invertebradas, que habitam em águas doces, são capazes de captar o DNA das plantas, dos fungos, das bactérias e de outros animais. A constatação foi descrita na publicação Science e mostra que o bdelloid rotifers - fêmeas, em sua grande maioria -, são capazes de trocar seu material genético de várias formas, sem que seja necessariamente pela via sexual. Com quase 500 espécies identificadas em todo o mundo, os bdelloid rotifers foram descobertos em 1702, quando o renomado pesquisador Antony Leeuwenhoek adicionou água à poeira recuperada de uma calha, em sua casa, observando os organismos no líquido resultante.

Os resultados da atual pesquisa mostram que os genes de bdelloid rotifers podem incorporar os genomas de uma maneira diferente de outros animais, além do comum acoplamento entre machos e fêmeas. Essencialmente, Matthew S. Meselson, professor de Ciências Naturais, e seus colegas observaram que os bdelloids podem agregar ao seu DNA material genético de outros organismos, desintegrando seu próprio genoma - algo que estes animais não fazem regularmente durante períodos de dessecação (processo que fratura seu material genético e leva à ruptura das membranas celulares). O processo não está inteiramente compreendido e certamente será alvo de mais estudos. Um dado curioso é que os bdelloids podem recuperar seu estado vital, através da hidratação nos próprios habitats, reconstituindo prontamente seus genomas e suas membranas.    No processo de reconstrução do DNA fraturado, embora possa adotar fragmentos do material genético de outros bdelloids, o organismo também é capaz de escolher DNA de espécies não relacionadas. Meselson e os co-autores Eugene A. Gladyshev e Irina R. Arkhipova acreditam que os resultados podem resolver o mistério da longevidade dos bdelloids e possibilita a compreensão de como estes organismos conseguem adaptar-se aos novos ambientes. Os bdelloids não só surpreendem quanto à capacidade de incorporação do material genético estranho, mas também pelo controle de alguns desses genes funcionais.    

 

Esta oportunidade de aproveitar o metagenoma ambiental de uma forma plena faz com que o bdelloid seja um importante organismo de estudo. Quando os pesquisadores localizaram as fontes exatas do DNA invasor, eles verificaram que os genes estranhos estão concentrados nos telómeros do bdelloid. Os telómeros são estruturas de cromossomas constituídas por fileiras repetitivas de proteínas e de DNA não codificante. Uma próxima etapa do estudo pretende determinar se os genomas do bdelloid contêm igualmente os genes homólogos importados de outros bdelloids. O grupo de pesquisadores tentará responder à dúvida: “será que os animais usam realmente algumas das centenas de fragmentos do DNA estranho para seu próprio benefício?”. Futuramente, o estudo poderá ter conseqüências na engenharia genética e na engenharia ambiental, e novos fármacos poderão ser desenvolvidos. Áreas das ciências ainda não exploradas, devido ao fato de as descobertas ainda serem muito recentes, poderão ganhar um novo ritmo de pesquisa.

Quase todos os animais multicelulares têm fortes defesas contra o DNA de outros organismos estranhos, mas os bdelloids fazem exceção à regra. A falta de indivíduos do sexo masculino e a capacidade extraordinária de resistir à radiação levaram os pesquisadores Meselson e Gladyshev, ambos do Laboratório Biológico Marinho em Woods Hole, EUA, a publicar um trabalho anterior ao atual no Proceedings of the National Academy of Sciences, sublinhando essas notáveis características dos bdelloids. O projeto é financiado pelo Instituto Nacional de Saúde e pelo National Science Foundation.

  

19/06/2008
 

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