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Arma biológica para destruir campos de papoula no Uzbequistão.

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Também conhecido como terrorismo químico-biológico ou guerra biológica, as suas ações e conseqüências tem tido maior visibilidade nas últimas duas décadas. O termo bioterrorismo ganhou maior notoriedade, sobretudo após os ataques de 11 de Setembro. 

De forma bem simplista o bioterrorismo é traduzido pela liberação intencional de agentes infecciosos ou produtos químicos que podem ser extremamente prejudiciais à saúde pública - esse é o lado negro da Biotecnologia, ou seja, o uso intencional de microorganismos ou toxinas derivados de organismos vivos ou vírus, causando morte ou doenças em humanos, inclusive em outros animais, ou plantas e em comunidades civis.
 
Vários vetores podem ser utilizados para que o bioterrorismo ocorra: doenças de fácil propagação, animais doentes, produtos de origem animal ou vegetal, entre outros. Estes vetores são considerados armas biológicas ou agentes de guerra biológica, isto é, organismos ou toxinas produzidas por organismos (bactérias, fungos e vírus – exemplos que serão relatados nesta matéria) que podem ser usados contra inúmeros alvos. Diferentemente, as armas químicas são produtos nocivos desenvolvidos pelo homem que matam ou incapacitam e podem ter maior ou menor impacto consoante a sua composição e concentração.    

Uma variante do bioterrorismo é o agroterrorismo, o qual é uma forma específica de bioterrorismo onde as armas biológicas e/ou químicas visam animais ou plantações para causar danos econômicos e instabilidade. Em termos de conseqüência, os efeitos do agroterrorismo são medidos em termos de saúde e mortalidade animal, enquanto o bioterrorismo é medido pela mortalidade e os custos associados com descontaminação, vigilância, controle e erradicação, se possível. E não pense que o agroterrorismo é recente. Na Primeira Guerra Mundial o exército Alemão utilizou o Bacillus anthracis, o agente causal de anthrax, para contaminar cavalos e mulas na Mesopotâmia e França.

Existem inúmeras formas de serem liberados tais produtos, porém duas formas são as mais comuns: no ar, através de poeiras ou a partir de reservatórios de água que abastecem uma localidade. Dependendo da forma de ataque, a pessoa afetada pode não morrer, mas transmitir o vírus, caso seja uma arma viral, para um conjunto de pessoas não atingido inicialmente, amplificando mais ainda o impacto da arma. 

São conhecidas três formas clássicas de contato: pela pele, criando lesões cutâneas de maior ou menos gravidade, podendo ou não ser disseminado pelo sangue; por ingestão de alimentos ou líquidos contaminados; e pela inalação atingindo todo o aparelho respiratório podendo causar a sua paragem e consequentemente a morte. A ameaça de ataques terroristas por meio de armas biológicas e no ar é sem dúvida a mais preocupante diante do potencial bélico existente em vários países e do poder de contaminação de alguns agentes patogênicos. 

Os Governos Britânico, Americano e as Nações Unidas já investiram 1,3 milhões de dólares para desenvolver um fungo que ataca e mata as papoilas do ópio em plantações afegãs, como uma arma biológica que não ameaça outras plantas e animais. Como é sabido a papoila, ou papoula é uma flor da família das Papaveraceae, abundante no Hemisfério Norte, cultivada para ornamento, comida, mas sobretudo para o mercado do ópio. A droga é feita a partir de um suco resinoso, coagulado, o látex leitoso da planta dormideira, extraído por incisão feita na cápsula da planta, depois da floração. 

Em 1998 o Afeganistão produziu quase 2 mil toneladas de ópio e um importante mercado é o americano. Os EUA têm mostrado todo o interesse contra o uso desse tipo de armas, sobretudo quando o assunto é droga. Só para se ter uma idéia, as drogas ilícitas geram em território americano $70 bilhões e 14.000 pessoas morrem em média, direta ou indiretamente com ela. 

Em regiões próximas do Afeganistão devido à similaridade com a geografia e o clima, importantes pesquisas têm sido desenvolvidas. No Uzbequistão, país que faz parte desde 1988 da UN Drug Convention, um fungo desenvolvido por uma equipe de americanos e ingleses tem destruído as principais variedades de papoulas. O organismo Pleospora papaveracea, que permanece ativo no solo por anos, ataca o ópio e causa lesões que se espalham até que consumam a planta. Além disso, o fungo não afetou as cerca de 130 espécies de plantas parecidas com a papoula, o que do ponto de vista científico é um sucesso. Contudo, fica-se sem saber até que ponto esse fungo não afetará o fluxo gênico destas plantas, podendo, no pior dos casos, criar mutantes indesejáveis. 

The United Nations International Drug Control Program (UNDCP), por meio das convenções contra crime organizado, corrupção e tratados para o controle de droga, têm exercido inúmeras operações nessa região e efetivado mais esforços em agentes biológicos contra o ópio e a maconha (termo popular para designar a droga derivada de uma planta conhecida cientificamente por Cannabis sativa). Por sua vez a United Nations' Biological and Toxic Weapons Convention (BTWC) coloca algumas barreiras a esse tipo de experimentos, já que não se conhece a magnitude e os futuros efeitos colaterais deste tipo de ataque.   
 
Durante as semanas que se seguiram após o 11 de Setembro, muito se ouviu falar da bactéria Anthrax (Bacillus anthracis). Esta, manipulada laboratorialmente, pode servir para atacar populações causando grandes danos. Devido ao baixo custo e relativa facilidade de armazenamento, o seu uso no bioterrorismo ganhou notoriedade. Apesar de algumas características idéias, como as citadas para os terroristas, o anthrax não se transmite de uma pessoa para outra.    
 
Outro importante agente do bioterrorismo é o vírus da varíola. Apesar de amplamente estudado e com vacina específica já desenvolvida, seria difícil ou mesmo impossível controlar a varíola caso fosse disseminada pela via do bioterrorismo. Após a inalação da bactéria os sintomas são semelhantes ao da gripe. Com o agravamento das lesões pulmonares os sintomas podem assemelhar-se ao da hantavirose. Apesar do forte impacto no organismo humano há uma grande possibilidade de tratamento e cura quando é diagnosticada a tempo e usados antibacterianos específicos. Para se ter uma idéia, em 1979 o laboratório Biopreparat, na Rússia, gerou um acidente com 1 grama de anthrax causando a morte de 68 pessoas. Ressalte-se que este já foi considerado dos mais modernos laboratórios do mundo. Imaginemos o seu manuseamento em mãos erradas.
09/05/2006
 

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