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Mudanças do DNA nos últimos 10 mil anos

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A Universidade de Chicago publicou no periódico PloS Biology um estudo que demonstra que pelo menos 700 fragmentos do genoma humano (o que representa 2,8% dos genes) sofreram grandes modificações resultantes da seleção natural nos últimos 10 mil anos. Percebeu-se que a espécie se desenvolve e evolui naturalmente não só de maneira pontual, mas também de maneira sistemática.

O líder da pesquisa, Jonathan Pritchard, afirmou em entrevista à Folha de São Paulo que os resultados demonstram que muitos genes sofreram mutação recente influenciados pela seleção. Os dados analisados foram coletados do International HapMap Project e consistem no estudo de 209 indivíduos não relacionados. O pesquisador e dois estudantes de doutorado realizaram o estudo e analisaram dados genéticos de três grandes grupos populacionais, são eles: 89 leste-asiáticos, 60 europeus e 60 iorubás da Nigéria.

Com o auxílio de computadores, procuravam indícios de genes que tivessem demonstrado mudanças no passado recente, e, ao encontrar mudanças vantajosas nos alelos, observou-se que os portadores destas variantes tendem a gerar mais descendentes e a sobreviver mais tempo, o que aumenta a freqüência do alelo nas gerações futuras. O fato constataria que a seleção natural é um motor da evolução. Os cientistas encontraram aproximadamente o mesmo número de mutações selecionadas em cada população, também descobriram que cada povo compartilha cerca de um quinto destas mutações e estas ocorrem simultaneamente entre os grupos. Segundo Pritchard, esta aproximação permite que se tome a perspectiva de ver que tipos de sistemas biológicos estão se adaptando.  

 



O estudo

Nos europeus foram localizadas um total de cinco seqüências genéticas ligadas ao desenvolvimento da pele mais clara, isto ocorreu, pois as primeiras pessoas que chegaram à Europa tinham peles que acabaram permitindo a passagem da radiação solar, e assim, facilitavam a produção de vitamina D. No mesmo grupo também encontrou-se uma grande porção de portadores de alelo relacionados com a manutenção da capacitação de digerir a lactose mesmo já estando na idade adulta, esta mutação ocorreu em cerca de 90% dos europeus. Entre os 700 genes identificados, muitos outros mostraram ter ligação com as sucessivas alterações na dieta das pessoas por causa de invenções como a agricultura. Fatores climáticos e novos hábitos parecem ser itens indispensáveis nesta seleção recente e com certeza influenciaram para as mudanças genéticas ao longo destes 10 mil anos. 

Diferente do que estudos anteriores afirmavam, povos africanos sofrem a mesma pressão evolutiva que outras populações. Segundo o líder da pesquisa relatou para o mesmo veículo de comunicação, os resultados mostram uma forte adaptação recente em todas as populações. No caso dos iorumbás, em algumas medidas são até mais fortes do que nas outras. No povo nigeriano analisado, encontraram-se variantes genéticas associadas com proteínas formadoras de cabelo, por exemplo.

Um fato extremamente interessante é que, com o passar dos anos, as adaptações causadas pelas mudanças de clima, ambiente, alimentação e etc, trouxeram mudanças genéticas que favoreceriam a vida da espécie, um exemplo é a resistência de grupos étnicos resistentes à malária ou com tolerância à lactose na idade adulta.  Com estas informações descobertas, futuros estudos podem explorar que tipos de pressão estes genes responderiam para preencher os espaços da história da evolução recente. Embora estas mutações não estejam muito esclarecidas, Pritchard acredita que o sequenciamento do DNA deverá ter cada vez mais utilidade na medicina.

07/03/2006
 

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