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Qualidade dos embriões bovinos

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Um dos maiores destaques do agronegócio brasileiro, a bovinocultura, desponta também no cenário internacional  e ocupa o posto de dono do segundo maior rebanho efetivo do mundo, com cerca de 200 milhões de cabeças. Essa liderança é observada também nas exportações, assumida desde 2004, com um quinto da carne comercializada internacionalmente e pelas vendas em mais de 180 países.

No mercado interno, o rebanho bovino se desenvolveu em dois segmentos, as cadeias produtivas da carne e leite, com um valor bruto da produção estimado em R$ 67 bilhões.

Diversos fatores, tais como o clima tropical e a extensão territorial do Brasil, aliados aos investimentos em tecnologia e capacitação profissional e a atuação do poder público com o desenvolvimento de políticas públicas, o controle da sanidade animal e a segurança alimentar, contribuíram para que o país atendesse às exigências dos mercados rigorosos e conquistasse espaço no cenário mundial.

Dentre as tecnologias já desenvolvidas e em constante aperfeiçoamento e que vem colaborando com o sucesso da bovinocultura brasileira, a produção de embriões in vitro tem mostrado resultados muito promissores.

Esses embriões são produzidos a partir da manipulação de gametas fora do organismo materno, ou seja, em condições laboratoriais. A tecnologia consiste na combinação de vários processos interdependentes, que vão desde a obtenção de ovócitos imaturos à transferência dos embriões para as fêmeas receptoras (barrigas de aluguel), passando pelas etapas de maturação e fecundação dos ovócitos e cultivo dos embriões, ambos "in vitro".

Muitas empresas de biotecnologia em reprodução animal vêm investindo em tecnologia e treinamento para aperfeiçoar as técnicas, buscando maiores taxas de sucesso. O melhoramento genético promovido pelo uso da produção in vitro de embriões promove, entre outros resultados, a obtenção de animais resistentes e por isso mais adaptados a determinadas condições climáticas, em relação aos animais puros.

Apoiada pela FAPESP, uma empresa de biotecnologia (reprodução animal), sediada na cidade paulista de Mogi Mirim, desde 2002 vem investindo nessa técnica e obtendo bons resultados. Esse sucesso pode ser constatado pelos excelentes números apresentados pela médica veterinária e diretora de pesquisa da empresa, Dra. Andrea Cristina Basso, em entrevista à Agência FAPESP.

De acordo com a pesquisadora, a empresa detém mais de 45% do mercado mundial de produção in vitro de embriões bovinos, e em 2013 foram produzidos cerca de 266 mil desses embriões. Segundo ela, a estimativa é que a participação da instituição nesse mercado aumente ainda mais.

Na mesma entrevista, a pesquisadora fez uma avaliação sobre a técnica, na época do início das atividades da empresa, concluindo que a produção in vitro de embriões bovinos não era eficiente a ponto de ser transformada em um negócio, nem apresentava resultados significativos, devido ao seu pouco desenvolvimento. Segundo ela, o objetivo era torná-la aplicável comercialmente.

As principais limitações, apontadas pela pesquisadora, e que tornava cara a produção dos embriões, foram o tempo restrito para coleta e envio dos oócitos ao laboratório, a impossibilidade de congelar e estocar os embriões, a baixa produção de embriões, taxas de gestação insatisfatórias e problemas no nascimento.

O aperfeiçoamento dessa tecnologia objetivou aumentar a produtividade e viabilizar o uso de embriões, tendo como meta final reduzir o intervalo entre as gerações e acelerar o processo de melhoramento genético. Além disso, análises laboratoriais mostraram que os meios de cultivo produzidos pela empresa mantinham a estabilidade dos embriões por até 90 dias.

Com isso, a empresa passou a produzir e armazenar meios de cultura em grandes quantidades, passando a ser o seu principal produto em termos de diferencial de mercado. Esse avanço proporcionou maior flexibilidade para a manipulação dos meios de cultura embrionários.

Outra evolução dessa tecnologia e que se tornou um novo produto, foi a utilização de um método de congelamento ultrarrápido de embriões, o qual se mostrou bastante eficiente. Em termos de mercado nacional, segundo a pesquisadora, a utilização dessa técnica mudou o conceito de fertilização in vitro em bovinos no Brasil, possibilitando maior flexibilidade na administração, transporte interno e até para a exportação dos embriões.

A próxima barreira a ser transposta pela empresa está relacionada à ausência de um protocolo que ateste a qualidade sanitária dos embriões destinados à exportação. Com vistas a levar a genética nacional para outros países, se faz necessário o desenvolvimento de um protocolo que comprove que os embriões estão livres de patógenos, vírus ou protozoários, de forma que a metodologia empregada seja reconhecida pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento no Brasil (MAPA) e pelas entidades responsáveis dos países interessados em comprar o produto.

08/07/2014
Arlei Maturano - Equipe Biotec AHG