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Imunizante brasileiro contra o HIV

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Os resultados de uma série de experimentos realizados por pesquisadores da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) e que tiverem início em 2001, podem culminar na produção de uma vacina contra o HIV. O objetivo dos experimentos é o de encontrar o método de imunização mais eficaz a ser usado em humanos e para isso, deverão ser realizados testes em macacos, ainda no segundo semestre desse ano.

A busca pela produção dessa vacina, começou pela análise do sistema imunológico de um grupo de portadores do HIV, que tinham a ação do vírus sob controle por mais tempo, e que por isso, permaneciam por um período maior sem manifestar a doença. Nesse primeiro experimento, os pesquisadores procuraram identificar epítopos de linfócitos T do tipo CD4, potencialmente protetores na maior parte das regiões conservadas do genoma da sequência consenso do subtipo B do vírus HIV-1.

Como já era de conhecimento dos cientistas, os linfócitos TCD4 acionam os do tipo CD8 (citotóxico) e B (produtor de anticorpos), no entanto, descobriu-se que a presença de um tipo especial de linfócito TCD4 com ação citotóxica, poderia explicar como os indivíduos infectados e portadores dessas células mantinham a quantidade de vírus controlada, na fase crônica da doença.

As CD4 e CD8, glicoproteínas da superfície dos linfócitos T, são expressas em subgrupos mutuamente exclusivos de linfócitos T maduros, com padrões distintos de restrição do complexo principal de histocompatibilidade (do inglês Major Hystocompatibillity Complex, MHC). Ambas servem como moléculas acessórias, por facilitarem as interações dos linfócitos T com as APCs (células apresentadoras de antígenos), ou dos CTLs (Linfócitos T Citotóxico/Citolítico) com as células-alvo.

Usando um software específico, os pesquisadores selecionaram peptídeos, a partir de pequenos pedaços de proteínas das áreas mais conservadas do HIV, e que apresentavam mais chance de serem reconhecidos pelos linfócitos TCD4 da maior parte dos pacientes. A partir desse procedimento, os cientistas escolheram 18 peptídeos, os quais foram resintetizados em laboratório e codificados em um plasmídeo. O objetivo foi de observar quantos peptídeos seriam reconhecidos pelas células TCD4, em um grupo de trinta e duas pessoas infectadas.

A partir dos resultados obtidos no primeiro experimento, os cientistas administraram os peptídeos em quatro grupos de camundongos geneticamente modificados, em que cada um expressava um tipo diferente da molécula HLA (Human leukocyte antigen), envolvida com o reconhecimento do vírus. Os resultados mostraram que, 16 dos 18 peptídeos foram reconhecidos e ativaram tanto os linfócitos TCD4 como os TCD8. Ao observarem que o principal grupo, denominado grupo M, foi capaz de induzir respostas imunes para combater os fragmentos de todos os subtipos de HIV já testados, os cientistas desenvolveram uma nova vacina com os elementos conservados de todos os subtipos dos vírus desse grupo.

No trabalho atualmente desenvolvido pelos cientistas, foi avaliada a capacidade de redução da carga viral dessa nova versão da vacina (HIVBr18) em camundongos infectados. Em entrevista à Agência FAPESP, o pesquisador da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), Edecio Cunha Neto, explicou que o HIV normalmente não infecta camundongos, sendo assim, a equipe isolou o vírus chamado vaccinia – que é aparentado do causador da varíola, não letal em humanos, mas que infecta outros mamíferos – e inoculou  dentro dele antígenos do HIV.

Ao receberem a vacina, os animais infectados pelo vaccinia modificado apresentaram uma quantidade cinquenta vezes menor do que o grupo controle, no entanto, será necessário descobrir se a destruição do vírus foi causada pela ativação das TCD4 citotóxicas.

Segundo Cunha Neto, macacos Rhesus serão utilizados para testar diversos métodos de imunização para selecionar aquele capaz de induzir a resposta imunológica mais forte, para então, poderem ser  testados  em humanos. O outro objetivo é verificar não apenas qual é a formulação que mais ativa os linfócitos TCD4 citotóxicos, mas também a que mais auxilia a resposta de linfócitos TCD8 e a produção de anticorpos contra a proteína gp140, do envelope do vírus.

O pesquisador comentou também que, além da vacina de DNA originalmente criada, serão colocados os peptídeos dentro de outros vírus vacinais, como o adenovírus de chimpanzé, vacina da febre amarela ou o MVA,  para selecionar a melhor combinação de vetores.

Apesar de os cientistas acreditarem que essa vacina não eliminaria totalmente o vírus do organismo, acreditam que seria possível manter a carga viral reduzida ao ponto de o indivíduo infectado não desenvolver a imunodeficiência e não transmitir o vírus. Cunha Neto acredita que a HIVBr18 também poderia ser usada para fortalecer o efeito de outras vacinas contra a Aids, como a desenvolvida pelo grupo do imunologista Michel Nussenzweig, da Rockefeller University, de Nova York, feita com uma proteína do HIV chamada gp140. Baseado nos resultados obtidos, o pesquisador que uma única vacina poderia, em tese, ser usada em diversas regiões do mundo, onde diferentes subtipos do HIV são prevalentes.

14/08/2013
Arlei Maturano - Equipe Biotec AHG