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Novo alvo no tratamento da artrite

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De acordo com a Sociedade Brasileira de Reumatologia (SBR), “a artrite reumatoide (AR) é uma doença inflamatória crônica que pode afetar várias articulações. A causa é desconhecida e acomete as mulheres duas vezes mais do que os homens. Inicia-se geralmente entre 30 e 40 anos e sua incidência aumenta com a idade”. Quanto ao seu tratamento, a SBR informa que é basicamente realizado por meio de anti-inflamatórios, além dos corticoides para as fases agudas e drogas modificadoras do curso da doença, a maior parte delas imunossupressoras e mais recentemente, os agentes imunobiológicos passaram a compor as opções terapêuticas.

Com o acometimento de 2% da população mundial e eficácia relativamente baixa dos tratamentos medicamentosos, a comunidade científica vem buscando novos caminhos terapêuticos que possam minimizar os processos inflamatórios e consequentemente a intensidade da dor que os mesmos causam.

Seguindo essa linha de pesquisa, um grupo de cientistas desenvolveu um estudo com cerca de 30 camundongos, com artrite induzida geneticamente, utilizando o inibidor sintético, 1-Trifluoromethoxyphenyl-3-(1-propionylpiperidin-4-yl) urea (TPPU - sigla em inglês), da enzima epóxido hidrolase solúvel (sEH). O estudo foi publicado na edição de maio (13) do Faseb (Federation of American Societies for Experimental Biology Journal).

O TPPU foi desenvolvido e patenteado pelo Dr. Bruce Hammock, e age mantendo elevados os níveis de EET (ácido epóxi-eicosatrienóico) nos tecidos, por um longo período de tempo, interferindo assim no mecanismo de inflamação. O EET é um produto do metabolismo do ácido araquidônico catalisado por epoxigenases do citocromo P450.

Como base para o desenvolvimento de uma nova linha terapêutica para a artrite reumatoide (AR), os autores do estudo levaram em consideração, entre outros fatores, os efeitos colaterais do uso frequente de glicocorticoides, assim como o baixo nível de resposta ao uso de antirreumáticos.  

Na AR, citocinas pró-inflamatórias, como TNF‐α, IL-6, IL‐17 e IL‐33, são encontradas em níveis elevados, contribuindo para a inflamação sinovial, nesse contexto e de acordo com os autores do artigo, há evidências que demonstram que essas substâncias são alvos terapêuticos bem sucedidos na AR, incluindo terapias anti‐TNF‐α e anti‐IL‐1β porém, eles destacaram a ocorrência de vários efeitos colaterais, já descritos, especialmente em infecções e que, por conta desses efeitos, a literatura ressalta a necessidade de novas vias terapêuticas para o tratamento da AR”.

A equipe de pesquisadores explicou no artigo que os EET (ácidos epoxieicosatrienóicos) e os ácidos graxos epoxídicos (EpFA) são compostos endógenos com efeito anti-inflamatório e que ao serem convertidos pela sEH em ácidos dihidroxiletilatratenóicos (DHETs), acabam por reduzir seus efeitos biológicos, sendo assim, a inibição da sEH é usada como uma estratégia para aumentar os níveis de EET, levando, portanto, a uma menor inflamação. 

Nesse estudo, os cientistas pesquisaram os efeitos da inibição de sEH pelo TPPU, em animais com artrite induzida por colágeno. Os resultados mostraram que o tratamento com esse inibidor melhora a hiperalgesia (sensação dolorosa de intensidade anormal, após um estímulo nocivo), o edema (acúmulo de fluido no espaço intersticial), diminuindo a expressão de importantes citocinas pró-inflamatórias produzidas pelos linfócitos Th1 e Th17, enquanto aumenta as células Treg - células T regulatórias (linfócitos T), componentes importantes da tolerância imunológica.

Considerando os desafios para controlar a AR, este estudo fornece dados robustos que apoiam que a inibição do sEH é um alvo promissor no tratamento da artrite.

Em entrevista dada à revista da Agência Fapesp (22 de julho), o pesquisador Marcelo Henrique Napimoga, diretor de Pós-Graduação, Pesquisa e Extensão da Faculdade São Leopoldo Mandic e coordenador da pesquisa no Brasil, comentou que “a TPPU foi desenhada de forma a poder ser bem tolerada e absorvida por meio de administração por via oral”. Segundo Napimoga, ela favorece um processo natural de defesa, aumentando o número de metabólitos que nosso próprio organismo produz, sendo uma grande vantagem em comparação com os tratamentos convencionais, que se baseiam no uso de grandes doses de corticoides, com indesejáveis efeitos colaterais. O pesquisador ressaltou também os efeitos anti-inflamatório e analgésico da TPPU.

04/08/2020
Arlei Maturano - Equipe Biotec AHG
 

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