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Antibiótico aliado da quimioterapia

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No artigo publicado na edição de setembro da revista científica Science, intitulado “Potential role of intratumor bacteria in mediating tumor resistance to the chemotherapeutic drug gemcitabine”, são apresentados os resultados de uma pesquisa sobre a relação entre uma determinada espécie de bactéria e a resistência do tumor pancreático à quimioterapia.

A pesquisa foi realizada no laboratório do Dr. Ravid Straussman, pertencente ao Departamento de Biologia Celular e Molecular do Instituto de Ciências Weizmann. O estudo foi liderado por Leore Geller e realizado em colaboração com os doutores Todd Golub e Michal Barzily-Rokini, do Instituto Broad, ligado ao Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT).

Sustentados pelas evidências de que a eficácia de alguns tratamentos contra o câncer pode ser afetada pela ação de certos microrganismos e, ao estudarem modelos animais de câncer de cólon, os pesquisadores descobriram que bactérias são capazes de metabolizar o quimioterápico gencitabina, convertendo-o para sua forma inativa, o 2’,2’-difluoro-desoxiuridina.

Em entrevista concedida à versão online da revista Science Daily, Straussman explicou que o grupo estava procurando evidências de que as células normais, em meio ao tecido tumoral, podem contribuir para a resistência à quimioterapia. Ao testar o efeito de muitas células humanas normais e cancerosas sobre a sensibilidade das células cancerígenas à quimioterapia, eles encontraram uma amostra específica de células normais da pele humana que tornaram as células tumorais de pâncreas resistentes à gencitabina.

Ao buscarem a causa dessa resistência, a equipe encontrou bactérias que contaminaram acidentalmente essas células da pele. De acordo com o pesquisador, o grupo decidiu, ao invés de descartar as amostras contaminadas, tentar descobrir como essas bactérias degradaram a droga, se existiria a possibilidade de outras bactérias terem um mecanismo similar para inativar a droga e se elas poderiam ser encontradas dentro de tumores humanos.

Os pesquisadores descobriram que um tipo de proteobactéria da classe gama expressa uma enzima chamada citidina desaminase (CDA), capaz de metabolizar esse quimioterápico. A CDA é uma enzima evolutivamente conservada da rota de salvamento das pirimidinas, catalisa a desaminação hidrolítica da citidina e 2'-desoxicitidina para formar uridina e 2'-desoxiuridina, respectivamente.

Ao estudarem o modelo em ratos com câncer de cólon, notaram que a resistência à gencitabina foi induzida por essa classe de bactérias presentes no tecido tumoral e que esse processo era dependente da expressão da CDA bacteriana, o qual foi anulado pelo co-tratamento com o antibiótico ciprofloxacina.

No artigo, a equipe de pesquisadores informou que ao testarem 113 indivíduos acometidos por adenocarcinoma no ducto pancreático (da sigla em inglês PDAC), 86 apresentaram resultado positivo para bactérias, principalmente as proteobactérias gama, o que fortalece a hipótese dos cientistas de que a presença desses microrganismos em PDAC aumenta a resistência à gencitabina, muito usada no tratamento dessa doença.

Agora, o que o Dr. Straussman e sua equipe querem descobrir é se essas bactérias podem ser encontradas em outros tipos de câncer e, caso isso se confirme, quais efeitos podem exercer sobre essa doença e sua sensibilidade a outros medicamentos contra o câncer, dentre eles uma nova família de imunomediadores e drogas anticancerígenas.

 

 

13/10/2017
Arlei Maturano - Equipe Biotec AHG
 

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