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Epitopo combate febre reumatóide

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A pesquisa desenvolvida por uma equipe de cientistas do Instituto do Coração (InCor), da Universidade de São Paulo (USP), poderá levar à produção de uma vacina que, ao imunizar o organismo contra a Streptococcus pyogenes, poderá ajudar a prevenir a febre reumática (reumatismo infeccioso) e a doença reumática do coração.

O reumatismo infeccioso se caracteriza por ser um quadro inflamatório, de caráter autoimune, provocada pela bactéria Estreptococo beta-hemolítico do grupo A de Lancefield, que causa também infecções de garganta e a escarlatina. De forma geral, a enfermidade se manifesta por volta de 7 a 15 dias depois de um episódio infeccioso de faringoamidalite com febre. A maior incidência ocorre em 3% das crianças entre 5 e 15 anos, que apresentam alterações no sistema imunológico por herança genética.

Dentre as principais sequelas da doença, estão as lesões causadas no coração que ocorrem devido a uma reação do sistema imunológico à presença da bactéria. De acordo com a coordenadora da pesquisa, Luiza Guilherme, em entrevista à Agência FAPESP, esse processo acontece "porque partes da bactéria têm sequências de aminoácidos e a conformação de algumas proteínas são muito parecidas com as existentes nas válvulas cardíacas”.

As lesões causadas nas válvulas cardíacas são permanentes e progressivas, levando à necessidade de uma cirurgia de correção. A pesquisadora esclareceu também que, ao ser operado pela primeira vez na infância, o paciente tem grandes chances de ter que passar por diversas cirurgias ao longo da vida, o que torna a febre reumática uma das doenças de tratamento mais oneroso no Brasil e no mundo.

Para produzir a vacina era necessário antes, definir o epítopo (StreptInCor) - fragmento mínimo da bactéria capaz de induzir uma resposta imunológica, que foi realizado por meio da análise do soro de indivíduos sadios, que entraram em contato com a bactéria, mas não desenvolveram a doença. A vacina desenvolvida é composta por 55 resíduos de aminoácidos encontrados na porção C-terminal da proteína M, que engloba os protetores celulares T e B dos epítopos.

Essa proteína é um fator determinante de virulência do Streptococcus do grupo A, em virtude da sua capacidade de resistir à fagocitose. A estrutura dessa proteína oferece diversas vantagens, que vão de variações antigênicas à vários domínios funcionais. A estreita semelhança do desenho molecular proteico é que faz com que determinadas proteínas de mamíferos possa ajudar a explicar, a um nível molecular, a formação de epítopos responsáveis ​​pelas reações sorológicos cruzadas entre as proteínas microbianas e dos mamíferos.

No intuito de testar a reação imunológica do organismo, os pesquisadores produziram uma sequência sintética dos mesmos  aminoácidos encontrados na porção C e injetaram em diferentes modelos de estudo com camundongos, dentre eles uma linhagem transgênica de roedores que expressavam moléculas humanas do sistema HLA de classe 2 (antígeno leucocitário humano, na sigla em inglês) – diretamente envolvidas com a identificação de antígenos e desenvolvimento da resposta imunológica.

Após o período de um ano, a equipe de cientistas realizou uma a análise histológica de vários órgãos dos animais para verificar a segurança da vacina candidata para o epitopo. Os resultados mostraram que a StreptInCor foi capaz de induzir uma resposta imune duradoura, robusta e segura e  sem reações deletérias em vários órgãos. De acordo com a pesquisadora do InCor, ao serem infectados com elevadas quantidades de bactérias, foi possível notar que o grupo imunizado teve uma sobrevida de 80%, após um período de um mês, sendo que os que não receberam a vacina vieram morrer.

Além dos camundongos, a vacina foi testada em suínos de até 25 kg, o que equivale ao peso de uma criança e após um ano, os níveis de anticorpos foram altos e não houve nenhuma reação prejudicial.

Os resultados mostraram que o StreptInCor é capaz de induzir uma resposta imune longa, forte e segura, sem reações deletérias em vários órgãos, podendo assim, indicar que a vacina produzida com esse epítopo pode ser considerada segura contra as doenças graves induzidas pelo Streptococcus.

27/05/2013
Arlei Maturano - Equipe Biotec AHG
 

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